Vamos juntar a nossa voz à da Cátia e fazê-la chegar a Lisboa

O apelo feito nas páginas do DN (excelente a reportagem sobre a toxicodependência, na edição do dia 4 de dezembro, a propósito) por uma mãe comoveu-me. E deve dar de pensar a todos nós. O “grito” por ajuda feito pela Cátia (nome dado pela jornalista à entrevistada) é o mesmo que muitas mães e muitos pais estão a dar por essa Madeira (e por esse mundo) fora. Uns gritam mais alto, outros sofrem mais em silêncio, mas a dor, pungente, é a mesma.

Um apelo que, infelizmente, não chega a quem tem de chegar: a Lisboa, à Assembleia da República, o lugar onde se pode alterar o destino de muito destes jovens, a quem compete legislar sobre esta matéria de um foro que ultrapassa os poderes legislativos de uma Região Autónoma, a qual está impedida decidir quando se trata de matéria reservada da República, como é o caso.

Como o presidente do Governo Regional disse, o problema não se coloca em termos de instalações para acolher os toxicodependentes a recuperar. Os espaços existentes são muitos e se for preciso a Madeira tem, conforme enfatizou Miguel Albuquerque, capacidade para ampliar esses espaços.

O problema é que, como tão bem a Cátia expressa e como também muito bem Miguel Albuquerque vem alertando, é que muitos destes jovens estão severamente doentes, mas recusam a cura. As drogas sintéticas, entre as quais o “bloom” (a “droga nova” que grassa por cá há anos, mas que a comunicação social nacional descobriu agora), impelem-nos para as ruas, transformam jovens ordeiros em agressores e delinquentes e tornam dias pacíficos de famílias em momentos de perene sobressalto.

“Sangram” as famílias, teme quem anda na rua e é confrontado por comportamentos alucinados de quem cedeu à tentação de droga “barata”, mas altamente letal e nociva.

Há mais de dez anos, como alertou o diretor da Unidade que acompanha os comportamentos desviantes na Região, que a Madeira tenta alterar a Lei, de modo a permitir medidas que possam ajudar a resolver o problema. Desde as mais brandas ao aparentemente radical internamento compulsivo.

Certa esquerda mais radical e outros menos radicais, mas que cedem ao eleitoralismo fácil vão bradar que é um atentado às liberdades e garantias. Nem sequer vou entrar pelo princípio clássico de que a liberdade de cada um deve ter em conta a liberdade dos outros… Vou apenas contrapor com o direito a cada um a ser feliz, a ser são, e a se livrar da doença.

A droga é uma doença. E se quando sabemos de alguém que está muito doente, fazemos tudo para que ele possa ser curado, devemos fazer o mesmo por estes doentes… Eles estão, de facto, repito, muito doentes e a necessitar de ajuda, do apoio especializado que só uma casa de saúde, um centro de apoio, pode dar.

Esta é uma questão muito séria para ser politizada, como quer fazer o PS da Madeira. Até porque, como já vimos, quem anda a atrasar a solução até nem são as autoridades de cá… São as de lá…

Mas, mais do que se estar a apontar culpas e culpados, o objetivo agora é encontrar uma solução. Para que a Cátia possa voltar a dormir descansada. Para que as mães e os pais madeirenses e porto-santenses possam voltar a dormir descansados…

Vamos juntar a nossa voz à da Cátia e de outras Cátias. Gritemos tão alto que Lisboa, habitualmente tão surda e tão cega em relação às realidades exteriores ao terreiro do Paço, seja obrigada a ouvir e a ver. E que tenha de agir. E que não tenhamos de esperar que o problema lhes acabe também por cair em cima, para então as coisas serem resolvidas….

Este é um problema que nos deve preocupar a todos. Esta não deve ser apenas uma agonia da Cátia. O grito deve ser uníssono, forte, fazendo eco… Para chegar a Lisboa…

Ângelo Silva