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Abusos sexuais na Igreja abalaram até a Presidência em Outubro

Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica recebeu 424 testemunhos até Outubro

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A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica recebeu 424 testemunhos desde que começou a trabalhar no início de 2022 até outubro, mas o número de vítimas é bastante superior.

O coordenador da comissão independente, Pedro Strecht, admitiu que a maior parte dos crimes reportados já prescreveu e explicou que "os abusos compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa".

Até outubro tinham sido comunicados ao Ministério Público 17 casos, estando em avaliação "mais 30 situações em estudo para idêntico procedimento" na justiça.

A última atualização pública feita pela equipa liderada por Pedro Strecht ocorreu na sequência de várias notícias, em outubro, sobre possíveis ligações de membros da hierarquia da Igreja Católica portuguesa a alegados encobrimentos de casos de abuso sexual.

O pedopsiquiatra recusou comentar essas situações e garantiu que "não sentiu qualquer limitação ou entrave à independência, nomeadamente por parte de qualquer membro daquela hierarquia".

Apesar da "tolerância zero" aos abusos decretada pelo Papa Francisco, Pedro Strecht também vincou que "há um setor da Igreja Católica que quer manter os segredos" e que se tornou "muito claro que houve encobrimento da hierarquia católica em Portugal", apelando à instituição para "vencer o medo" e recusar "a ocultação da ocultação".

Em causa estavam alegados encobrimentos dos crimes, nomeadamente por parte do cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, e do bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas.

Estes casos acabaram por ganhar impacto político quando o Presidente da República considerou que os mais de 400 testemunhos não eram um número "particularmente elevado". Marcelo Rebelo de Sousa foi muito criticado e praticamente só o primeiro-ministro, António Costa, saiu em defesa do chefe de Estado, que, após dois dias de sucessivas explicações, acabou por se desculpar perante as vítimas.

Além de Pedro Strecht, fazem ainda parte da comissão Álvaro Laborinho Lúcio, juiz conselheiro jubilado do Supremo Tribunal de Justiça, Ana Nunes de Almeida, socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Daniel Sampaio, psiquiatra e professor catedrático jubilado da Faculdade de Medicina de Lisboa, Filipa Tavares, assistente social e terapeuta familiar, e Catarina Vasconcelos, cineasta.