Quando a morte não devia ser notícia

Os nossos meios de comunicação noticiam diariamente mortes, independentemente de serem geradoras de interesse comum ou não. Noticiam mortes como se a morte fosse anormal e inesperada, como se fossemos eternos, como se a lei da vida não fosse tudo o que nasce, morre. A morte é certa…

Se me permitem, existem situações que não são, ou pelo menos não deveriam ser, notícia para a população em geral, existem situações que devem SIM ser “notícia” APENAS para os familiares, para os entes queridos e próximos do falecido, por respeito, por consideração, pela reserva da privacidade da vida privada e familiar de cada um…

Compreendo e respeito o direito e o dever de informar… infelizmente, por experiência própria, sei o quanto uma notícia do falecimento de uma pessoa que nos é próxima pode ter um efeito devastador e prolongado junto dos familiares e amigos, e esse momento de dor deve ser única e exclusivamente deste núcleo próximo que tem o direito a alguma reserva e ao respeito pela sua dor, porque são cidadãos comuns e o mundo não tem de ver nas páginas de jornais a sua vida exposta... EU NÃO QUERO QUE ISSO ACONTEÇA COMIGO NEM COM OS MEUS E SE CALHAR A MAIORIA NÃO QUER...

Dito isto, e pelo que tenho assistido junto de alguns conhecidos, as sucessivas notícias de mortes divulgadas nos meios de comunicação social, além de ter este efeito menos favorável junto dos familiares e amigos do falecido, têm, simultaneamente, conduzido a situações de alarme, geradoras de sentimentos de insegurança e de angústia, principalmente junto das pessoas mais sensíveis, mais vulneráveis, levando-as a acreditar que tudo está mal… Há uma morte, de imediato soam os alarmes para publicar nos meios de comunicação, com aquela ânsia de divulgar em primeiro lugar... é o que parece estar a acontecer, sem critério, sem sentido, morreu importa divulgar... e ainda se fala em saúde mental, se calhar a proteção e promoção da saúde mental também começa aqui...

É possível que este desabafo não produza qualquer efeito, peço apenas alguma reflexão, de quem escreve e de quem decide... Não estaremos com o foco “errado” com tanta coisa boa e positiva que acontece à nossa volta? Seria bom poder ler mais notícias boas e positivas. Elas existem, basta mudar o foco.

Jesus Basílio