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ONU considera "horríveis" declarações de ministra britânica sobre migrantes

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O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, considerou hoje "horríveis" as recentes declarações da ministra do Interior britânica, Suella Braverman, que evocou uma "invasão" de requerentes de asilo no Reino Unido .

No início da semana, Braverman provocou indignação quando descreveu o número recorde de pessoas que procuram asilo no país como uma "invasão".

Questionado sobre os comentários, Türk disse que tais palavras não eram admissíveis e alertou contra a desumanização dos migrantes.

"Invasão. Palavra horrível", disse o novo alto comissário da ONU durante a sua primeira conferência.

"Estou feliz que tenha havido uma reação forte na Grã-Bretanha a esse uso da palavra", salientou.

Türk lembrou que quando era o número dois na agência de refugiados da ONU (ACNUR) durante a crise migratória de 2015-2016 na Europa era precisamente "o tipo de palavras e linguagem desumanizantes" que ouviu de políticos europeus.

O alto comissário da ONU disse estar preocupado com o reaparecimento desse tipo de linguagem.

"Nós temos de trabalhar com firmeza para que não se intoxique questões que preocupam os seres humanos", apontou.

Dados divulgados pelo Ministério da Defesa indicam que entre as 00:00 de sexta-feira e sábado, 990 pessoas foram detetadas a tentar atravessar o Canal da Mancha da França para o Reino Unido em 24 pequenas embarcações.

O número de pessoas que arriscam a perigosa viagem através de uma das rotas de navegação mais movimentadas do mundo aumentou acentuadamente nos últimos anos.

Só este ano chegaram ao Reino Unido 40.000 pessoas, contra 28.000 em todo o ano de 2021 e 8.500 em 2020. Dezenas de pessoas morreram a tentar, incluindo 27 em novembro de 2021, quando um barco em que viajavam virou.

Ainda assim, o Reino Unido recebe menos requerentes de asilo do que outros países europeus, incluindo França e Alemanha.

Reino Unido e França têm discutido sobre como deter os grupos organizados de tráfico de pessoas e reforçaram os meios de controlo, mas não estão de acordo sobre como fazê-lo.

O governo Conservador britânico anunciou um plano controverso para enviar pessoas que chegam em pequenos barcos para o Ruanda, onde os pedidos de asilo seriam processados.

Os críticos dizem que o plano é imoral e impraticável, estando atualmente suspenso enquanto é contestado nos tribunais.