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Seguradora obrigava médicos a receitar hidroxicloroquina a pacientes covid-19

Revelação foi feita por Bruna Morato, advogada representante de 12 médicos que trabalharam na seguradora Prevent Senior

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A advogada Bruna Morato, representante de 12 médicos que trabalharam para uma empresa brasileira de seguros de saúde, disse na terça-feira que esses profissionais eram obrigados a receitar fármacos como hidroxicloroquina a pacientes com covid-19.

Bruna Morato foi ouvida na terça-feira pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investiga alegadas falhas e omissões cometidas pelo Governo brasileiro na gestão da pandemia.

A advogada é representante dos médicos que trabalharam na seguradora Prevent Senior e que elaboraram um dossiê - já entregue à CPI - com diversas denúncias sobre o tratamento irregular da empresa face a pacientes com covid-19.

Bruna Morato, que foi ouvida durante oito horas, afirmou que os médicos em causa não tinham autonomia e que os pacientes infetados recebiam um "kit covid" com "receita pronta" para tratamento da doença, composto for fármacos sem eficácia comprovada contra a covid-19, como hidroxicloroquina.

A advogada relatou que profissionais recebiam ameaças e que foram distribuídos "kit covid" até para pacientes com comorbidades.

Segundo Bruna, não eram feitos exames preliminares, como testes cardíacos, antes da entrega dos kits, que também foram enviados como "brinde" a beneficiários do plano de saúde.

"É muito importante observar também que quando o médico queria tirar [algum fármaco] do kit, ainda que ele riscasse na receita, o paciente recebia-o completo. Então, tinha a informação de que tinha de tomar aqueles medicamentos e o médico tinha que riscar, porque a receita também já estava pronta. Inclusive, vinha com um manual de instruções", relatou a brasileira.

De acordo com a advogada, os médicos que eram contra a prescrição do "tratamento precoce" sofriam retaliações como "redução no número de plantões" ou eram demitidos pela Prevent Senior.

Bruna Morato revelou ainda um suposto pacto da Prevent Senior com o Ministério da Economia brasileiro para validar o chamado "tratamento precoce", como forma de tentar evitar medidas de confinamento obrigatório que, segundo o Governo, seriam devastadoras para a economia do país.

Na avaliação dos senadores da CPI, essa revelação reforça a atuação de um denominado "gabinete paralelo" no Governo federal na defesa de medidas sem comprovação científica na pandemia.

"O que foi feito no Brasil foi uma ação criminosa na condução da pandemia. A Prevent Senior recebeu do Governo autorização para matar", avaliou, por sua vez, o senador Rogério Carvalho.

As acusações contra a empresa de planos de saúde começaram em abril, quando médicos que trabalharam na linha de frente contra a covid-19 naquela empresa relataram receber assédio constante para prescrição de fármacos sem eficácia comprovada contra a doença e que poderiam agravar o quadro de Saúde dos pacientes, como flutamida, cloroquina, azitromicina e ivermectina.

Além disso, uma reportagem exibida pela rede Globo indicou ainda que a Prevent Senior ocultou mortes de pacientes que terão sido usados como cobaias num estudo para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a covid-19,

O estudo chegou a ser divulgado e enaltecido pelo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, como exemplo de sucesso do uso da hidroxicloroquina.

Após a advogada relatar que teme pela sua integridade, revelando que já teve o seu escritório invadido, o senador Randolfe Rodrigues pediu à Polícia Federal que seja assegurada segurança para a testemunha.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo ao totalizar 595.446 óbitos e 21,3 milhões de infeções pelo novo coronavírus.

A covid-19 provocou pelo menos 4.752.875 mortes em todo o mundo, entre 232,27 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.