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Biden considera que Talibãs enfrentam "crise existencial"

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O Presidente dos Estados Unidos disse hoje não acreditar que os talibãs tenham mudado, mas sublinhou que o grupo enfrenta uma "crise existencial" em relação a querer reconhecimento como "governo legítimo" e integração na comunidade internacional.

Numa entrevista ao programa "Good Morning América", do canal de televisão ABC, que foi hoje transmitido na íntegra, Biden disse que não considera que os talibãs estejam diferentes após 20 anos de guerra e de presença militar dos Estados Unidos no Afeganistão.

"Mas esta é a questão. Penso que [os talibãs] estão a passar por uma espécie de crise existencial em relação a quererem ser reconhecidos pela comunidade internacional como um governo legítimo", disse Biden.

Na opinião do Presidente norte-americano, os talibãs continuam focados nas suas crenças, embora "também se preocupem se haverá comida para comer, rendimentos, forma de administrar a economia, e se conseguirão manter unida uma sociedade que dizem amar tanto".

"Não estou a dar como certo, mas acho que faz parte do que está a acontecer agora", comentou.

Biden insistiu que a decisão de deixar o Afeganistão após 20 anos de presença militar é a "correta", apesar das cenas caóticas que estão a acontecer atualmente no aeroporto de Cabul, com milhares de afegãos a tentar escapar do novo Governo talibã.

Diante das críticas de abandono de mulheres e raparigas ao regime fundamentalista, Biden destacou que a ideia de que se pode "defender os direitos das mulheres no mundo com força militar não é racional".

"A maneira de lidar com isso não é com uma invasão militar. É por meio da pressão diplomática da comunidade internacional", afirmou.

Joe Biden deixou claro que o seu objetivo é completar a retirada do país antes de 31 de agosto, mas se isso não for possível, será determinado "naquele momento" quem falta ser retirado e o que os militares devem fazer.

O Presidente disse que mesmo com os talibãs no poder, vê uma ameaça maior em locais dominados pela Al-Qaida e pelos seus grupos afiliados noutros países, e que já não era "racional" continuar a concentrar o poder militar dos EUA no Afeganistão.

"Devemos concentrar-nos onde a ameaça é maior (...). E a ideia de que podemos continuar a gastar um bilião de dólares e ter dezenas de milhares de forças norte-americanas no Afeganistão, quando temos o norte de África e a África Ocidental, a ideia de que podemos fazer isso e ignorar esses problemas iminentes, problemas crescentes, não é racional", sublinhou.

Biden citou a Síria e a África Oriental como lugares onde o grupo extremista autoproclamado Estado Islâmico (EI)representa uma "ameaça significativamente maior" do que no Afeganistão e disse que o EI "sofreu uma metástase".

Falando da possibilidade de prolongar a presença militar dos Estados Unidos, Biden apenas mencionou a necessidade de retirar os cidadãos norte-americanos e não falou dos afegãos que trabalharam com os militares do seu país nos últimos 20 anos.

Segundo o Presidente, ainda há entre 10 mil e 15 mil norte-americanos no Afeganistão que têm de ser retirados, além de 50 mil a 65 mil afegãos e suas famílias que os Estados Unidos querem tirar do país.

Os talibãs assumiram o controlo de Cabul no último domingo depois dos seus combatentes entrarem na capital sem encontrar resistência, com quase todas as províncias sob seu controlo, e após a fuga do até então Presidente afegão, Ashraf Ghani.