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Educação para a Cidadania

Está a ser notícia um caso recente de dois irmãos que, por opção dos pais, faltaram às aulas da disciplina de Educação para a Cidadania. O Ministério da Educação impôs que chumbassem de ano por causa dessas aulas em atraso, mas a decisão foi suspensa pelo Tribunal de Braga.

Alguns ex-governantes como Cavaco Silva ou Pedro Passos Coelho, entre outros, fazem parte de um manifesto subscrito por 100 pessoas “em defesa das liberdades de educação” e que rejeitam a posição do Ministério da Educação. Não estando obviamente em causa o direito destes subscritores em pedirem objeção de consciência nas aulas de Educação para a Cidadania, o manifesto soa a patético e é altamente preconceituoso.

A Educação para a Cidadania alerta e sensibiliza os adolescentes para os temas da sexualidade, género, interculturalidade, comunicação social e ambiente. Não vejo por que razão não posso confiar o meu filho a uma aula de Educação para a Cidadania se essas matérias são tão importantes como a História, o Português, a Matemática ou a Educação Física, por exemplo.

O preconceito dos subscritores é o de que esses temas mais sensíveis – sexualidade, questões de género, etc – se ensinam em casa e não na Escola. Nada mais errado.

Se os subscritores entendem que o ensino da sexualidade se resume ao estudo do aparelho reprodutor nas aulas de Biologia, estão seguramente muito longe da realidade. E sim, a abordagem destes temas mais sensíveis com professores e colegas em ambiente de sala de aula só enriquece a educação e a formação dos alunos. E o que aprendem na Escola é sempre a par com a educação recebida em casa, por isso não compreendo qual o “medo” ou o preconceito dos subscritores em privarem os seus filhos de poderem crescer num ambiente de aprendizagem que os enriqueça.

Terão eles receio de que a Escola eventualmente “desvirtue” a visão que os pais querem dar da vida aos seus filhos? Mas isso não pode também acontecer em matérias como a História? Um incapaz ou pouco consciente professor de História não pode ensinar de forma enviesada ou preconceituosa a sua matéria? Não pode o mesmo risco acontecer em Português ou Educação Física, com as negativas consequências para a aprendizagem dos alunos em cada uma dessas matérias?

Estamos a falar de assuntos lecionados por professores de carreira, sobre temas que fazem parte dos currículos da Escola Pública portuguesa. Só o “medo” e a insegurança de um pai pouco preparado para ver o seu filho crescer – sendo ensinado em casa e na Escola – o pode levar a pensar que esses temas só podem ser abordados debaixo do teto da família.

É bom não esquecer que a Escola é uma segunda casa, quando a casa é uma primeira Escola.

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