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Risco sistémico e interesse estratégico

Andei, por estes dias, devidamente auxiliado por gente bem mais capaz do que eu, ocupado a fazer contas. Mais bem-dito, a fazer macro contas, que as micro, de cá da empresa, ocupam sempre parte significativa do meu tempo.

Longe, muito longe, de sequer vislumbrar sinais de retoma e em modo de sobrevivência, estou bastante sensível a afirmações do género das que ouvi sobre apoios regionais ao sector do turismo de não sei quantos largos milhões de euros, sem qualquer correspondência com a realidade.

Só a título de exemplo, o que pagámos na empresa de impostos e contribuições em 2020 é superior em 40% ao que recebemos, à data, de apoio do Estado, por via do regime de “layoff” mutante criado.

De resto, não sei se estão a considerar apoio o financiamento para substituição de receita que nos foi permitido efectuar, com aquisição de acções de sociedades de garantia mútua pelo meio, 16% do qual pode ser convertido em fundo perdido daqui a 1 ano e meio mas cujos juros começaram a ser pagos este mês…

Numa indústria que significa, directamente, mais de 25% do PIB regional, 17% do emprego ou quase 20% do total de remunerações, o que falta para que se perceba o risco, sistémico, que terá uma hecatombe deste sector para a economia regional?

Não são muitas, as alternativas válidas que possam ser, a tempo, implementadas. E este a tempo que refiro é já, é agora! Sob pena de muitos de nós nem chegarmos a ver o fogo de artifício!

Pagar salários durante um ano, tendo presente as unidades abertas, sem clientes em número suficiente façamos o que fizermos e que, por isso, deviam ser premiadas, custaria cerca de 56 milhões de euros ao erário público, com subsídio de Natal e de férias, sector da Restauração incluído.

Isentar, na minha perspectiva cumulativamente com o que acima disse, o sector no mínimo do pagamento da Seg. Social representaria um benefício acrescido de cerca de 20 milhões de euros. É muito dinheiro?

Talvez seja mas não vou gastar caracteres com isso… Porque a alternativa é ir buscar verbas à mesma fonte, via pagamento de subsídio de desemprego. A não ser que também achem, como alguns energúmenos que já ouvi, que o facto deste subsídio ser pago por lá faz alguma diferença…

Em certo tempo, o Estado foi a correr salvar a banca. Ao sprint, mais rápido que o Miguel Oliveira, tratou de distribuir prebendas a fundo perdido pela comunicação social. Comprou a TAP e a Efacec, aqui sem o justificativo sistémico; foi substituído pelo interesse estratégico. Salvar o Turismo não interessa?

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