Como fui socorrido no Porto Santo
Confesso que nunca tinha visto tanta gente no magnifico lençol dourado do nosso “paraíso”. Na última terça feira de agosto, o vento que carateriza a localidade fazia-se sentir de forma bem ativa, sobretudo nas ondas, que, com alguma violência, rebentavam na praia, provocando um inevitável arrastamento lateral aos afoitos.
Por estas razões, não mergulhei como habitualmente, pois sabia que, se o fizesse, aquela dor que, apesar de pouco intensa, estava a sentir me obrigaria a “brigar” com aquele poder natural que tinha muito mais força do que eu, podendo, assim, intensificar-se repentinamente. Optei por digitalmente fazer a busca dos meus sintomas e logo confirmei aquilo que, ao fim e ao cabo, já pressentia estar a aproximar-se.
No início da madrugada seguinte, não consegui calar mais o que se passava e, no seio familiar, manifestei a grande dor no peito e dormência no braço esquerdo que estava a agravar-se.
Bastou tocar a campainha do Centro de Saúde e prontamente surge alguém disponível para me ajudar. A prescrição dos medicamentos foi rapidamente cumprida pelo serviço permanente da farmácia. Não cheguei a utilizá-los. A dor agudizou-se e aquela equipa médica, de forma rápida e eficaz colocou em prática toda a logística montada para uma urgência deste género. “Tem de ir imediatamente no aviocar da FA para o hospital do Funchal. Está tudo tradado”, sentenciou-me a médica de serviço (Drª Margarida Mendes).
Uma vasta equipa de médicos e enfermeiros esperava por mim, pronta para qualquer intervenção de último grau. Uma voz respondeu à minha pergunta acerca da minha situação, num tom firme e audível: “É grave”.
Após algumas horas na Sala de Observações sou conduzido à UTIC, onde caras simpáticas com sorrisos afáveis adivinhadas atrás das máscaras me colocaram num descanso a toda a hora monitorizado.
A explicação detalhada aconteceu no dia seguinte, quando a minha clarividência se havia já sobreposto a ansiedade do dia anterior. Aquele sotaque nortenho transmitia calma, serenidade, conforto e certeza do que havia analisado na segurança do que haveria de acontecer no dia seguinte. “Antes do senhor cá chegar, já sabíamos tudo o que estava a passar consigo. Vai correr bem”, disse-me o Dr. Joel Monteiro, que me inundou de esperança. E aconteceu!
O objetivo deste escrito, não é de forma alguma publicitar o sucedido. É, isso sim, enaltecer, valorizar e respeitar o conjunto de procedimentos implementados e que, de forma eficaz, resultam em eficiência de serviço em prol da saúde humana.
Quero dizer de forma veemente, de todo o coração: obrigado. À equipa médica de serviço no Porto Santo, às equipas de bombeiros, à Emir, à Força Aérea, e a todas as diferentes equipas do Hospital do Funchal, que, nos mais diversos níveis de serviço dos departamentos por onde passei, manifestaram elevadíssima educação, sentido de responsabilidade, prontidão, preocupação, acompanhados por palavras de carinho e estímulo. Em circunstância alguma vivi outra qualquer postura.
Finalizo com um apelo: Que este serviço da Emir não exista apenas nos picos de visitantes, que não seja apenas temporário, mas que se mantenha ao longo de todo o ano, atendendo e cuidando de todos aqueles que fazem do “paraíso” a sua residência e têm a capacidade de nos receber.
Tantas vidas foram já salvas com a sua rapidez de intervenção, com a sua abnegação, com a consciência do cumprimento do dever assumido.
É fácil esquecer quando tudo corre bem! Eu não esqueço.
Gonçalo Gil da Mota Gomes Pereira