Crónicas

Família nostra

“Falta no país e na região, como tem defendido o CDS, uma política integrada de família desde a infância à quarta idade que incentive a natalidade com creches e jardins de infância gratuitos (...)”

A desagregação das famílias é um dos problemas mais graves dos tempos que vivemos. A Família enquanto primeira célula da nossa sociedade quase desapareceu e isso trouxe consequências graves para cada um nós e para a comunidade. Não se trata das separações ou dos divórcios entre casais, que podem ser mais ou menos conflituosos, mas às vezes são inevitáveis e até salutares para ambas as partes, desde que se mantenha um relacionamento normal para salvaguardar os filhos; o que está em causa é o conceito de Família no sentido mais lato, em que as pessoas mesmo de parentesco mais distante, mantinham laços de amizade e sentiam-se responsáveis umas pelas outras, mesmo quando discordavam. Às vezes, os familiares só se viam de Festa a Festa, ou de Páscoa a Páscoa, mas era o suficiente para pôr a conversa em dia, relembrar Natais e Semanas Santas passadas e reavivar os sentimentos e os contatos. O espírito de clã, independentemente das divergências, estava acima de tudo e de todos. Isto deixou, praticamente, de existir nos dias que correm e o que se assiste é a um egoísmo e a uma ingratidão sem precedentes, com muitos a abandonarem os progenitores e a se esquecerem de outros familiares que lhes deram berço e lhes deram mundo. Infelizmente, os exemplos abundam e alguns só se lembram dos “seus” mais velhos quando estes partem e deixam alguma coisa para dividir. É triste, mas é uma realidade dos nossos dias e nunca é demais lembrar os mais de 600 idosos que estão nos hospitais com alta clínica, as centenas que estão nos lares e que raramente recebem uma visita, ou aqueles que vivem sozinhos e isolados, entregues à doença e à sua sorte. No caso das crianças, florescem os maus tratos, as negligências e os abusos físicos e psicológicos, pese embora termos leis mais rígidas e autoridades mais atuantes. Na Madeira, temos 198 crianças e jovens institucionalizados e outros 43 estão em família de acolhimento e estes números dizem muito sobre como o individualismo e o relativismo tomaram conta da nossa sociedade. A par desta realidade, as droga, o álcool e a violência doméstica são algumas das causas desta desestruturação familiar.

É evidente que a evolução social, positiva ou negativa - depende do prisma - trouxe novos tipos de agregados que merecem ser respeitados e protegidos, mas que fogem à família tradicional e que levantam inúmeros problemas e desafios às políticas públicas.

Com a redução drástica da natalidade, as famílias são cada vez menores e isso já hoje traz efeitos nefastos à sociedade e desafios sociais e financeiros aos Estados. Os casais estão reduzidos a um ou dois filhos e lá foi o tempo das grandes famílias que se protegiam e se entreajudavam, mesmo nas suas diferenças e rivalidades. A partir de uma Família formavam-se outras famílias, mas sem perder o vínculo à matriz de origem e à sua ancestralidade da qual todos tinham orgulho, independentemente do seu estatuto social ou da sua condição económica.

Falta no país e na região, como tem defendido o CDS, uma política integrada de família desde a infância à quarta idade que incentive a natalidade com creches e jardins de infância gratuitos; que privilegie fiscalmente o núcleo familiar e não o individuo; que dê aos casais jovens incentivos e não castigos quando pretendem fazer vida em comum; que articule horários laborais com necessidades familiares; que valorize o trabalho a tempo parcial ; que reforce os apoios a quem cuida dos mais velhos em casa, incapacitados ou com deficiência, como os cuidadores informais; que dê aos nossos seniores com saúde a dignidade devida e um envelhecimento ativo e saudável e que forme os jovens para o respeito pelos mais velhos e os prepare para o seu próprio envelhecimento. As políticas estatais viradas apenas para o individuo deram maus resultados e hoje o “cada um para seu lado” matou o sentido de comunhão e de entreajuda nas nossas comunidades. A trilogia “Individualismo, Materialismo, Consumismo” está a dar cabo do nosso sentimento de pertença e responsabilidade perante a sociedade e precisa de ser combatida e eliminada.

O “Deus, Pátria e Família” do Estado Novo marcou muita gente e instalou preconceitos e complexos que acabaram vertidos na legislação e nas diversas políticas económicas e sociais dos últimos 40 anos, com consequências negativas para a célula base da sociedade. O mesmo aconteceu com “Fátima, o Fado e o Futebol”, mas aqui a fé, o gosto e a vontade do povo impuseram-se a qualquer ideologia politicamente dita mais correta.

O povo costuma dizer que os amigos escolhem- se, mas a família não, e é uma verdade sempre atual. Precisamos de cuidar das Famílias, de as promover e de as dignificar porque é a partir delas que também se constrói uma comunidade, uma região e um país.