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Mar Mediterrâneo Oriental com mais de 410 mil resíduos de plástico

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Investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), no Porto, concluíram que existem mais de 410 mil resíduos de plástico a flutuar, ao longo de 1.784 quilómetros quadrados, no Mar Mediterrâneo Oriental.

O estudo, desenvolvido entre junho e julho de 2017, e publicado em novembro deste ano na revista Marine Pollution Bulletin, teve como principal propósito estudar a quantidade, tipologia, origem e padrões de circulação dos macroplásticos que flutuam nas águas do Mediterrâneo Oriental, a sul da ilha de Chipre.

“Visualizámos e quantificámos os resíduos ao longo de 1.784 quilómetros quadrados, isto porque, comparando com a zona mais central e ocidental do Mediterrâneo, foram poucos os estudos realizados na região oriental”, esclareceu à Lusa, Irene Martins, investigadora do CIIMAR e autora do artigo.

Assim, a equipa, composta por investigadores da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e do OceanSea (de Espanha), concluiu, através de técnicas de modelação matemática, que existem, em média, mais de 230 resíduos de plásticos a flutuar, por cada quilómetro quadrado e que nas “zonas mais contaminadas” os valores podem mesmo atingir os 1.600 resíduos.

“A maior parte dos plásticos que encontramos, cerca de 80%, são partículas que variam entre os 2,5 e os 50 centímetros. Além dos pequenos pedaços de plástico, encontramos também garrafas, sacos, copos e talheres. Efetivamente, pensamos que a origem destes é terrestre, mas muitos poderão também estar relacionados com o tráfego marítimo e o descartar de objetos”, frisou.

Já em junho, a Associação Natureza Portugal (ANP e WWF) alertou, a propósito do Dia Mundial dos Oceanos, que “95% dos resíduos” que flutuavam no Mediterrâneo eram compostos por plástico e que este corria o perigo de se vir a transformar “numa armadilha plástica, com níveis recorde de poluição causada por microplásticos, que ameaçam tanto espécies marinhas como a saúde humana”.

Segundo a investigadora, os resultados deste estudo permitem concluir que “a diversidade de macroplásticos na região oriental é mais elevada” do que nas restantes zonas do Mediterrâneo.

“Verificamos que o Mar Mediterrâneo tem algumas particularidades, isto porque é um mar ‘fechado’, as áreas costeiras são fortemente povoadas e tem muito turismo e transporte marítimo, portanto, acaba por ser um mar em que a concentração de macroplásticos é muito elevada”, afirmou.

A investigadora acredita que a solução para a “redução efetiva destes resíduos” passa por um acordo que estabeleça “medidas consensuais” entre todos os países que envolvem as águas mediterrâneas.

“Se um país tem medidas muito boas em termos de prevenção, mas outro país não tem, isto acaba por se refletir em todo mar e esta situação não é só aplicável ao [mar] Mediterrâneo, mas também aos [mares nos] restantes oceanos. Na verdade, a reciclagem é importante, mas uma grande parte de plástico que colocamos para reciclar é dificilmente reciclado, portanto, deveriam existir medidas consensuais quanto à utilização do mesmo”, sublinhou.

Os investigadores do CIIMAR estão agora a “preparar uma publicação” sobre a utilização dos modelos matemáticos no estudo dos impactos dos plásticos nos sistemas marinhos, resultante de um ‘workshop’ que o instituto organizou e no qual participaram vários especialistas europeus nesta temática.