Hospital vs hotel

“Estava um velho sentado num jardim (...) sabes, eu acho que todos fogem de ti pra não ver”. O assunto exposto inspirou-se na carta de Maria A relatando a situação de um seu familiar que não ficou no hospital para tratamento, porque as camas estavam ocupadas pelos “hóspedes”, segundo proferiu, abandonados e descartados. Junta à ridicularização imprudente, o poder económico e a falta de responsabilidade dos familiares que os entregam aos hospitais como se fosse um hotel, sem relato sobre os diagnósticos que tenham levado os médicos ou outras instituições a interná-los. Por vezes, a ignorância equivale ao desdém, mas surpreende a existência de uma segunda carta a rogar que cada um tratasse dos seus, consequentemente, revelando um desgosto “roxo” pela cama ocupada. Sem dúvida que o enxovalho recai nas próprias, principalmente, pelo desconhecimento prévio das histórias de vida que, no mínimo, deviam ser respeitadas, porque atrás desses internamentos estão com certeza constrangimentos de saúde e vidas muito sofridas, algumas, a quem a Justiça humana lhes negou tudo na Hora de maior necessidade. Ainda bem que existem hospitais, mas em que sentido se podem comparar aos hotéis? Em que estado de saúde? Se ao menos fosse um convento? Passaria pela mente de alguém pedir às freiras que se fossem embora dos seus conventos, porque estes pareciam um hotel? Ou rogar a evacuação dos doentes, porque outros desejavam os seus lugares ou já não os podem ver? Como é possível olhar uma pessoa num hospital e pedir a sua evacuação? Sobretudo, quando somos o exemplo de grande reputação no tratamento das pessoas com doenças agudas, muitas enclausuradas durante uma vida, ainda que diagnosticadas por erros médicos e provavelmente vítimas de maus tratos. Infelizmente, há quem ignore existirem doentes impossibilitados de uma vida normalizada, por isso, mais valia silenciar o sofrimento alheio do que os julgar levianamente, por conseguinte, se ainda se reclamasse por mais instituições, mais profissionais de saúde, mais enfermeiros, mais centros de saúde, hospitais e outros lares, mas ajuizar de forma holística e revelar um desgosto fingido pela desventura alheia e por uma cama? Na minha perspetiva, todos deveriam estar gratos pela existência desses sítios e pela possiblidade de permanência, embora se lamente a falta de visão nos investimentos para a construção de outros hospitais que trate a população envelhecida, antes que se multipliquem os cemitérios. Além disso, o GR anterior prognosticou parte do futuro, resta ao atual continuar a missão iniciada, entretanto, seria uma maneira de dar sentido às formações atribuídas aos jovens licenciados nas ações sociais que desesperam nas caixas dos supermercados por uma oportunidade mais digna relacionada com os acompanhamentos desta gente, sobretudo daqueles doentes crónicos e idosos, que merecem não só um Hospital, lar ou centro, como toda a nossa consideração. E permanecer num hospital não é menos digno do que estar num hotel, a diferença, respeita ao estado de saúde.