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Canárias sexy e 3.ª companhia La Palisse

Esperava - está bom de ver, ingenuamente - depois dos estados “ditos gerais”, que o PS-M e candidato apresentassem algo inovador, elaborado e consistente quanto à mobilidade aérea.

Pese os prolixos autores e o insuflado impacto mediático, a montanha, desta vez, pariu um par de ideias vazias, óbvias generalidades, banalidades de tertúlia, sem qualquer estudo prévio, que nem resistem a uma análise leiga e apressada do autor destas linhas.

«Instituição de modelo igual ao das Canárias»

É «sexy» dizer-se que se quer aplicar o modelo das Canárias na Madeira. Aquele em que o residente paga, nas viagens para a península, 25% do preço - seja ele qual for - do bilhete.

Por acaso leram sobre o assunto? Encontrei um único artigo científico sobre modelos de subsídio para passageiros/residentes, do Centro de Estudos de Economia Aplicada da Universidade de Canárias.

Artigo que conclui que o modelo «lump sum», em vigor na Madeira, é o aconselhável socialmente (em vez do “ad valorem” das Canárias) quando a proporção de residentes, sobre o total de passageiros na linha, é baixa e a sua propensão para pagar preços mais elevados é diminuta. O que é que cá se verifica? Surpresa para quem não fez trabalho de casa?

E não é o modelo de Canárias mais propenso a fraudes? Lembram-se, há dois anos, que a Air Europa foi condenada por defraudar o Estado espanhol em 30 milhões de euros, por ter obtido subvenções sobre valores acima dos cobrados nos bilhetes aos Canários? A preocupação com o dinheiro dos contribuintes não figura entre as prioridades do PS-M?

Sabem ao menos se os Canários estão satisfeitos? Se estivessem atentos a notícias recentes saberiam que um Ministro do Governo socialista espanhol, ao ser interpelado pelos partidos políticos insulares, sinalizou que estariam dispostos a tornar os voos com a península obrigação de serviço público, estabelecendo preços de referência.

Apesar da bonificação ter passado de 50% para 75% em Julho e de haver meia dúzia de companhias aéreas nas linhas, com o aumento de demanda em 40 %, o Estado espanhol está alarmado pelo facto dos preços ficarem à mercê do abuso das companhias, não se cumprindo o objectivo de ter preços mais baratos para os seus residentes.

«Introdução de uma 3ª companhia na linha»

Mesmo dito em bicos de pés e de peito inchado «quero uma 3ª companhia na linha», é uma lapalissada simplória. Quem é que do lado de cá não quer?!

Dizem que «com grande probabilidade» constará do Orçamento de Estado de 2019. Tinham a obrigação de saber que não se pode subsidiar companhias aéreas via OE, pois a União Euopeia proíbe este tipo de auxílios de Estado. Senhores socialistas, recomendo a leitura da comunicação da CE nº 2014/C 99/03 sobre auxílios estatais a companhias áreas.

Pode-se, sim, apoiar novas frequências/rotas através das campanhas em «co-branding». Ações que, sendo lideradas pelas Associações de Promoção, são levadas a cabo com ou sem o apoio do Turismo de Portugal e em estreita coordenação com a ANA, atendendo ao programa de incentivos que esta última entidade executa, visando o crescimento dos seus aeroportos.

O Governo Regional, juntamente com a ANA, há muito que estabelece negociações com várias companhias. Contactos que devem ser sigilosos, precisamente para não enfraquecerem posições, como é fácil de entender.

Num patético frenesim de entrevistas sobre o turismo, o PS Madeira, através do seu candidato, declarou a sua preferência pela Ryanair. Talvez porque um camarada socialista de Lisboa lhe tenha soprado que as negociações com a dita companhia estariam avançadas, quis ser o mensageiro da boa nova para a qual contribuiu zero.

Mandaria o bom senso que ficasse calado. É que poderá ter dificultado ou até gorado as negociações. Não quero crer que o pretendesse, terá sido apenas e só uma tonta (e interesseira) precipitação!

Mais grave é quando pensamos que corrermos o risco de ter, em vez de uma 3ª companhia na linha, a saída da EasyJet, ficando nas mãos da TAP.

Já alguém perguntou à EasyJet o que pensa do modelo de Canárias e porque é que não está lá a operar? Se EasyJet abandonar a Madeira, são 650.000 lugares (mais de 15% do total do Aeroporto da Madeira) que se perdem, incluindo para aeroportos de Inglaterra e Suíça. Pode a Madeira dar-se a esse luxo?

A gestão das rotas para a Madeira é um assunto sensível. Coexistem companhias de bandeira, low cost’s, tour operadores, cada um com seus interesses. É necessário um longo e meticuloso trabalho para que, sem pôr em causa os equilíbrios existentes, se consigam, a prazo, bons e duradouros resultados, nos antípodas deste comportamento de cigarra. É uma gestão com pinças. E mais uma vez, neste caso, o candidato do PS-M parece um atabalhoado elefante numa loja de porcelanas!