Mundo

Proposta de cessar-fogo de 30 dias na Síria volta à ONU na sexta-feira

foto André Gouveia / Global Imagens
foto André Gouveia / Global Imagens

Uma proposta de cessar-fogo de 30 dias na Síria, negociada há mais de duas semanas e ainda sem aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, volta a ser debatida na sexta-feira.

Depois de o embaixador da Rússia na ONU ter dito que os 15 membros do Conselho de Segurança não alcançaram um acordo para aprovar um cessar-fogo de 30 dias na Síria, o homólogo sueco afirmou hoje que as discussões prosseguem na sexta-feira, naquele conselho, podendo ainda esta noite ser introduzidas alterações depois de conhecida a posição de Moscovo.

Mais de 400 civis, incluindo crianças, morreram desde domingo na sequência de bombardeamentos das forças governamentais sírias contra Ghouta oriental, com apelos da comunidade internacional para que parem os ataques, incluindo hoje da chanceler alemã, Angela Merkel, que instou a Rússia e o Irão a usar toda a influência para evitar o “massacre”.

O embaixador da Suécia na ONU, Olof Skoog, sublinhou que espera que seja possível na sexta-feira votar o projeto de resolução elaborado pelo seu país e Koweit para um cessar-fogo de um mês.

Durante a reunião de urgência nas Nações Unidas, convocada na quarta-feira por Moscovo, o embaixador da Rússia, Vassily Nebenzia, denunciou hoje “os discursos catastróficos”, que já tinham sido utilizados a propósito da situação na cidade de Alepo (nordeste da Síria, perto da fronteira com a Turquia) em finais de 2016.

Segundo o representante russo, cujo país é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e tem direito de veto, a retórica utilizada não corresponde à situação no terreno.

Os Estados Unidos e a França, entre outros membros do Conselho de Segurança, protestaram contra a posição da Rússia, o principal aliado internacional do regime de Damasco.

O embaixador francês, François Delattre, mencionou os “ataques contra hospitais” e descreveu o cenário no território sírio como uma “situação insustentável”.

“A urgência no terreno é absoluta” e “é essencial adotar rapidamente” a resolução em discussão entre os 15 membros do Conselho de Segurança, frisou o representante diplomático francês.

Proposto pelo Kuwait e pela Suécia, o projeto de resolução em discussão prevê uma trégua humanitária na Síria durante um período de 30 dias, de forma a permitir o acesso a Ghouta Oriental, o último grande bastião da oposição síria nos arredores de Damasco, e a retirada de doentes e feridos.

Esta trégua tinha sido pedida a 06 de fevereiro pelas organizações da ONU que estão no terreno, nomeadamente para fornecer ajuda às cerca de 400 mil pessoas que vivem em Ghouta Oriental.

O enclave rebelde está sitiado pelas forças do regime sírio de Bashar al-Assad desde 2013 e enfrenta uma grave crise humanitária, marcada pela escassez de alimentos e de medicamentos.

Para evitar o veto russo, os negociadores aceitaram há uma semana excluir do cessar-fogo as zonas em que estão a ser travados combates contra grupos ‘jihadistas’, como o grupo extremista Estado Islâmico (EI) ou a Al-Qaida.

Desencadeado em março de 2011 pela violenta repressão do regime de Bashar al-Assad de manifestações pacíficas, o conflito na Síria ganhou ao longo dos anos uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos ‘jihadistas’, e várias frentes de combate.

Num território bastante fragmentado, o conflito civil na Síria provocou, desde 2011, mais de 350 mil mortos, incluindo mais de 100 mil civis, e milhões de deslocados e refugiados.