Mundo

Oitenta reais, o “preço” das venezuelanas que sobrevivem da prostituição no norte do Brasil

None

“Oitenta reais” são palavras fáceis de ouvir em ruas próximas à Rodoviária Internacional do bairro do Caimbé, na cidade de Boa Vista, que se tornaram um centro para prostituição para dezenas de imigrantes Venezuela.

Natasha, de 40 anos, uma mulher com corpo escultural e pele morena, contou à agência Lusa que morava na cidade venezuelana de Los Teques e mudou-se para o Brasil há três meses, para fugir da situação económica de seu país.

“Não gosto do que faço. Era chefe de segurança do trabalho em uma fábrica na Venezuela, mas o dinheiro não dava para nada, nem para comprar comida. Esta era a situação, então decidi vir para o Brasil. Não encontrei nada, nenhum trabalho e acabei aqui na rua”, disse.

Pelas ruas do bairro do Caimbé, na cidade de Boa Vista, no norte do Brasil, a mais de 3.400 quilómetros do Rio de Janeiro, os 80 reais - em moeda brasileira, cerca de 17 euros - é um ‘preço’ facilmente ouvido de Natasha.

“Tenho dois filhos na faculdade, um estuda direito e outro engenharia. Eles não sabem o que eu faço para viver. Eles me ligam e dizem: mãe eu quero um ténis (sapatilhas), mãe preciso de uma roupa. Tento mandar dinheiro, mas aqui [no Brasil] as coisas são caras”, acrescentou.

Maria, de 28 anos, outra prostituta que parou para conversar, também afirmou que foi a necessidade de ganhar dinheiro para a família que a fez deixar o emprego de enfermeira na Venezuela e imigrar para o Brasil, onde acabou na prostituição.

Com o telemóvel na mão, revela que também esconde seu trabalho da família e logo dispersou enquanto falava num aplicativo de mensagem com a filha pequena, que ainda mora com a avó na Venezuela.

Num ponto tranquilo da rota do sexo no bairro do Caimbé, a barraca da dona Sol - onde há mais de 20 anos é servido o Tacacá, prato típico da região Norte do Brasil -, o tema das conversas também era a transformação da área na zona das “oitienta”, nome com que são popularmente chamadas as prostitutas venezuelanas.

Alguns diziam que estavam com medo porque as prostitutas viviam acompanhadas de traficantes drogas, outros, na maioria mulheres -, criticaram o gesto de mão que elas fazem para atrair clientes porque não falam bem o português que consideram desrespeitoso.

“Dona” Sol, que vê diariamente todo o movimento da rua a partir da sua barraca, lembra que a região já era uma zona de prostituição.

“Aqui tinha prostituição, mas era lá na parte de cima da rua, agora é na rua inteira. Eu não faço problema com isto não, muitas delas vêm aqui e comparam sopa, outras até estão aprendendo a comer o Tacacá”, concluiu.