Investigação australiana recomenda fim do celibato na Igreja Católica
Uma investigação australiana sobre abuso sexual de crianças recomendou hoje à Igreja Católica que levante a exigência de celibato ao clero, de acordo com o relatório final.
O mesmo documento, com 189 recomendações e 17 volumes, indicou que deve também ser esclarecido até onde vai o segredo da confissão quando estão em causa provas de crimes contra menores.
A comissão real australiana sobre respostas institucionais ao abuso sexual de crianças está a investigar desde 2012 como é que a Igreja Católica e outras instituições no país responderam a estes crimes ao longo de mais de 90 anos.
Na investigação da comissão, a mais alta forma de inquérito no país, foram ouvidos os testemunhos de mais de oito mil vítimas de abuso sexual em instituições religiosas. Dos testemunhos recolhidos 62% eram católicos.
“Concluímos que houve falhas catastróficas na liderança das autoridades da Igreja Católica durante muitas décadas”, indicou o relatório.
A comissão recomendou ainda à Conferência Episcopal Australiana que peça ao Vaticano para considerar a introdução do celibato voluntário para o clero.
A Conferência também deve solicitar clareza sobre se a informação recebida no confessionário de que uma criança foi abusada sexualmente é coberta pelo segredo e se a absolvição de um abusador deve ser retirada até que o autor confesse à polícia.
Os padres católicos que testemunharam para a comissão real deram várias opiniões sobre o que os sacerdotes podem ou devem divulgar em relação ao que é dito em confessionário sobre abuso infantil.
As recomendações da comissão, num total de 409, incluem tornar crime a não denúncia de abusos infantis. Os sacerdotes não devem estar isentos de serem acusados.
Em 2016, o antigo ministro das Finanças do papa Francisco, o cardeal George Pell, testemunhou em vídeo a partir do Vaticano em 2016 sobre o período em que foi sacerdote e bispo na Austrália.
Pell tornou-se este ano o mais alto responsável da Igreja Católica a enfrentar acusações relacionadas com ofensas sexuais.
Através dos advogados, Pell prometeu lutar contra as acusações de agressões sexuais.
A comissão concluiu que as respostas da Igreja às queixas e preocupações sobre o clero na Austrália eram “surpreendente e perturbadoramente semelhantes”.
O presidente da Conferência Episcopal Australiana, o arcebispo Denis Hart, disse que a comissão “teria um impacto significativo na forma como a Igreja Católica e outras confissões na Austrália”.
Hart garantiu que os bispos iam apresentar ao Vaticano as recomendações sobre o celibato e confissão.
“O segredo da confissão, ou a relação com Deus que é estabelecida pelo sacerdote com a pessoa, é inviolável. Não pode ser quebrada”, disse Hart aos jornalistas.
Hart pediu desculpas pelhas falhas da Igreja em relação às crianças no passado.
O catolicismo é predominante entre a maioria cristã na Australia.