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Imagens satélite demonstram destruição de aldeias rohingya na Birmânia

FOTO Reuters
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A organização não-governamental Human Rights Watch pediu hoje ao governo da Birmânia para abandonar os trabalhos de demolição das povoações abandonadas pelos 700 mil civis da minoria rohingya que se refugiaram no Bangladesh.

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) critica a destruição das povoações depois de ter analisado imagens captadas por satélites, acrescentando que as zonas devem ser preservadas para que sejam alvo das investigações sobre os ataques militares birmaneses contra os muçulmanos rohingya.

O êxodo da minoria étnica começou no final do mês de Agosto de 2017 durante a operação militar no Estado de Rakain (oeste do país) na sequência de uma operação de grande escala.

As autoridades birmanesas justificaram as acções militares como tendo sido uma resposta contra os ataques de grupos armados rohingya.

Desde o final do ano passado que membros das forças birmanesas destroem, com o uso de máquinas pesadas, as estruturas de 55 povoações, indica a HRW.

“Muitas destas povoações foram palco de atrocidades contra os rohingya e devem ser preservadas para que os especialistas das Nações Unidas possam documentar e avaliar de forma adequada os abusos e identificar os responsáveis (...) Destruir estas zonas é apagar a memória e as denúncias legais dos civis que habitavam os locais”, assinala Brad Adams, diretor da HRW para a Ásia.

Entre os dias 9 e 13 de Fevereiro, as escavadoras arrasaram a povoação de Myin Hlut, que estava intacta, segundo demonstram imagens obtidas por satélite no passado mês de Novembro.

“A demolição deliberada das aldeias para destruir provas de crimes graves é obstrução à justiça e ajuda os responsáveis”, acrescenta Adams que alerta que a operação de destruição das povoações ainda não terminou.

Os locais que estão neste momento a ser destruídos juntam-se aos 362 pontos que foram completamente ou parcialmente arrasados durante a operação militar do ano passado.

A repatriação dos rohingyas que se encontram no Bangladesh já deveria ter começado em Janeiro, tal como fora acordado após negociações que decorreram no dia 23 de Novembro de 2017.

Em janeiro, as autoridades do Bangladesh decidiram adiar o processo de regresso de quase 700 mil civis por falta de condições de segurança.

A HRW e outras organizações humanitárias expressaram sérias dúvidas em relação ao governo da Birmânia e pedem condições adequadas para um repatriamento seguro.

Para a HRW, as Nações Unidas devem ser autorizadas a visitar as zonas afectadas para que possam ser investigadas as acusações de assassinato, violação, destruição de casas, entre outros crimes levados a cabo, supostamente, pelo Exército da Birmânia.

A organização não-governamental com sede nos Estados Unidos instou também os doadores internacionais a aumentar a pressão junto do governo da Birmânia, liderado “de facto” pela Prémio Nobel da Paz, Aung San Suu kyi.

As Nações Unidas e organizações de defesa de Direitos do Homem denunciaram várias vezes a existência de provas sobre os abusos e o Alto Comissário para os Direitos Humanos das Nações Unidas considerou a acção militar “limpeza étnica” sublinhando que existem indícios de genocídio contra a minoria muçulmana da Birmânia.