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Etiópia elege PM jovem e desconhecido após protestos em todo o país

Em Fevereiro, a Etiópia declarou pela segunda vez o estado de emergência em dois anos no meio de protestos

Abiy é o terceiro primeiro-ministro da Etiópia desde o fim da Junta Militar, a Derg, derrubada em 1991. FOTO Reuters
Abiy é o terceiro primeiro-ministro da Etiópia desde o fim da Junta Militar, a Derg, derrubada em 1991. FOTO Reuters

O parlamento etíope elegeu hoje o jovem e desconhecido Abiy Ahmed como primeiro-ministro na esperança de que será capaz de pôr cobro aos protestos antigovernamentais no segundo país mais populoso de África.

Após a eleição, Abiy foi imediatamente empossado no cargo, sucedendo a Hailemariam Desalegn, em funções desde 2012 e que apresentou a demissão em meados de fevereiro na sequência de protestos antigovernamentais registados em todo o país, que causaram várias centenas de mortos, sobretudo nas regiões de Oromia e Amhara.

Abiy é o primeiro político de Oromo a tornar-se primeiro-ministro da Etiópia, esperando-se que possa pôr um fim aos protestos, iniciados em 2015, destinados a garantir maior liberdade política e a libertação de personalidades da oposição.

A população de Oromo, o maior grupo étnico da Etiópia, país que conta com cerca de 100 milhões de habitantes, tem sido vítima de marginalização tanto política como economicamente.

Abiy, 42 anos, antigo tenente-coronel do Exército etíope e director geral do Ministério da Ciência e Tecnologia local, tem a reputação de grande orador e de reformista.

O líder da oposição etíope, Merara Gudina, mostrou-se “cautelosamente optimista” com a eleição de Abiy, indicando que o futuro da paz e estabilidade na Etiópia despenderá das políticas impostas pelo partido do novo chefe do executivo.

“O que procura alcançar depende do que o partido o deixará fazer”, disse Merara Gudina, acrescentando que Abiy foi eleito pelo partido no poder na Etiópia e não pela população.

Abiy é o terceiro primeiro-ministro da Etiópia desde o fim da Junta Militar, a Derg, derrubada em 1991.

Em Fevereiro, a Etiópia declarou pela segunda vez o estado de emergência em dois anos no meio de protestos que levaram ao encerramento do comércio e de outras actividades comerciais e bancárias.

No sábado, as autoridades etíopes indicaram que mais de mil pessoas foram detidas desde que o estado de emergência foi declarado.

Em 2015 e 2016, a Etiópia foi palco das maiores manifestações antigovernamentais dos últimos 25 anos. A repressão dos protestos fez 940 mortos, segundo a comissão etíope de direitos humanos, dependente do Governo.

A calma regressou ao país com a instauração do estado de emergência entre outubro de 2016 e agosto de 2017, embora os protestos se tenham repetido ocasionalmente.

Os protestos têm por base o descontentamento das duas principais etnias do país -- oromo (sul e oeste) e amhara (norte) --, que se consideram sub-representadas no partido que governa o país desde 1991, mas também na partilha de recursos e acesso a direitos e liberdades.