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Comissário europeu alerta para falta de prevenção de desastres em estados-membros

Christos Stylianides falava num seminário sobre o Mecanismo Europeu de Protecção Civil organizado pelo Instituto Sá Carneiro na Assembleia da República, em Lisboa, FOTO EPA
Christos Stylianides falava num seminário sobre o Mecanismo Europeu de Protecção Civil organizado pelo Instituto Sá Carneiro na Assembleia da República, em Lisboa, FOTO EPA

O comissário europeu responsável pela gestão de crises alertou hoje que há falta de prevenção em vários estados-membros, indicando que essa é uma das partes essenciais do sucesso do socorro às populações afectadas por desastres.

Christos Stylianides, que falava num seminário sobre o Mecanismo Europeu de Protecção Civil organizado pelo Instituto Sá Carneiro na Assembleia da República, em Lisboa, defendeu que todos os países da União Europeia devem ter planos próprios de avaliação de riscos.

“O socorro também é prevenção e preparação”, declarou, afirmando que, ao repensar o seu sistema de Protecção Civil, Portugal dá “um passo na direcção certa”.

O comissário europeu, que tem também a área da ajuda humanitária, considerou essencial que haja “uma cultura de prevenção em todos os estados-membros” e mais responsabilidade a nível nacional, além de mais investimento na prevenção, para o que se pode contar com fundos estruturais europeus.

“Para o socorro funcionar, os nossos estados-membros têm de reforçar as suas capacidades de prevenção e preparação”, disse, garantindo que a Comissão Europeia está empenhada em ajudar e encorajar os estados membros.

No âmbito do RescEU, uma reserva de meios de protecção civil, como aviões e engenhos de combate a incêndios, o comissário europeu indicou que exercícios conjuntos são outra condição para se constituir uma verdadeira rede europeia de protecção civil.

Referindo-se ao caso português e às tragédias do centro do país no ano passado, o investigador da Universidade de Coimbra Domingos Xavier Viegas indicou que foram fogos de tal intensidade que os bombeiros, só por si, não conseguiam extingui-los por mais meios que tivessem.

O comportamento do fogo de Pedrógão Grande, em junho do ano passado, ajudado por uma trovoada e por se juntarem duas grandes frentes numa super-frente, é um exemplo de um incêndio dos que “nem sempre é possível extinguir”.

“As pessoas não compreendem isto”, admitiu, acrescentando que a responsabilidade das populações na limpeza do espaço em volta das casas não é geralmente cumprida.

Entre as medidas de prevenção que o Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais analisa, estão a criação de fossos de água para servir de escudo a casas e aldeias e a construção de “casas seguras” onde as pessoas se possam refugiar, referiu.

A porta-voz da Autoridade Nacional de Protecção Civil, Patrícia Gaspar, afirmou que as “lições aprendidas” com os incêndios do “ano excepcional” que foi 2017, que fizeram mais de cem mortos, vão servir para as decisões a tomar na próxima época de incêndios.

Patrícia Gaspar destacou a competência dos bombeiros portugueses, que “combatem com sucesso milhares de fogos” todos os anos” e manifestou o empenho da protecção civil portuguesa no mecanismo europeu de protecção civil.

Para o presidente da Câmara do Sardoal, Miguel Borges, um dos concelhos afectados pelos fogos do ano passado, o sistema português “assenta em pés de barro” e o que aconteceu em 2017 “é o reconhecimento disso”.

O presidente da Liga dos Bombeiros, Jaime Marta Soares, considerou, por sua vez, que “não é com políticas feitas em cima do joelho”, como as multas a quem não limpe terrenos em torno de casas, assentes “na repressão e não na dissuasão” que se vai lá.

O deputado europeu do PSD Paulo Rangel defendeu que a protecção civil tem que estar nos programas das escolas, como antes aconteceu quando se introduziu a prevenção rodoviária.