Madeira

Padre José Luís Rodrigues denuncia “bullying clerical”

Pároco de São Roque sai em defesa do “descartado” Giselo Andrade

“Nunca imaginei que um dia ia presenciar um ostracismo contra um colega, tão cheio de veneno, cuspido pelas ventas tenebrosas de satanás revestido com uma máscara eclesiástica”.
“Nunca imaginei que um dia ia presenciar um ostracismo contra um colega, tão cheio de veneno, cuspido pelas ventas tenebrosas de satanás revestido com uma máscara eclesiástica”.

O padre José Luís Rodrigues lamenta que o seu colega Giselo Andrade tenha sido “literalmente escorraçado por uma autoridade sem tino e sem bom senso” da Paróquia do Monte, no mês de Fevereiro deste ano.

Mais, denuncia que o antigo pároco do Monte, que assumiu a paternidade de uma menina, viva agora de um “mísero salário que a Diocese lhe concede todos os meses” e não “tenha nenhuma função eclesiástica digna como exige a sua condição de sacerdote da Igreja Católica”.

O Padre Giselo Andrade integra o secretariado permanente do Conselho Presbiteral e é Director do Secretariado Diocesano da Comunicação Social e Director do Jornal da Madeira.

“Ostracismo contra um colega, tão cheio de veneno, cuspido pelas ventas tenebrosas de satanás”

“Quando se descarta um padre” é o título da reflexão do pároco de São Roque publicada esta manhã no seu blogue ‘Banquete da Palavra’, na qual mostra indignação pelo facto de Giselo Andrade ter sido “literalmente abandonado pelos seus pares” e que “uma pequena claque” tenha colocada a “autoridade máxima à frente do «bullying clerical» contra o padre Giselo para que fosse torrando em lume brando”.

“Já vi outros casos de postergação nesta terra, mas eu nunca imaginei que um dia ia presenciar um ostracismo contra um colega, tão cheio de veneno, cuspido pelas ventas tenebrosas de satanás revestido com uma máscara eclesiástica. Bem se queixou com razão o Papa Bento XVI dos corvos. Se alguma vez conseguisse imaginar que a hierarquia católica da minha terra fosse capaz de semelhante maquievalismo, eu digo, sinceramente, parece que tinha recusado ser o que sou”, escreve José Luís Rodrigues.

O sacerdote considera que Giselo Andrade “continua descartado, porque procriou, fez ver a luz a uma criança com os olhos da cor do céu”. “Com isso rebentou o ódio, a vingança e a inveja clerical, que são venenos terríveis dentro das hierarquias. Pois, fez um «pecado mortal» para a hipocrisia dominante da Igreja e da sociedade em geral, que soma séculos de abusos sexuais, prepotência, abuso de poder e o reincidente farisaísmo que impõe leis e mais leis para os outros cumprirem, ostracizando multidões de fiéis que tiveram que carregar fardos pesados impostos por aqueles que nem com a ponta do dedo lhe tocavam”, refere.

Também considera que o padre Giselo continuará de fora, descartado, “porque o «bullying clerical» continua, até ver se aguenta e desiste da feliz dignidade com que assumiu os seus actos, quiçá também um dos gestos, entre outros com certeza, dos mais corajosos destes cinco séculos da história da Igreja da Madeira... É coisa pouca para uma grande parte, mas um passo enorme que devia fazer pensar toda a comunidade católica da Madeira, se tivéssemos uma Igreja iluminada pela luz do Evangelho e com maturidade suficiente para pensar sem preconceitos”.

Mexidas na Diocese provocam reacção

José Luís Rodrigues toma posição após o Bispo do Funchal ter feito ajustes mínimos na Diocese, revelando ontem mexidas na paróquia do Monte. O Cónego Vítor dos Reis Franco Gomes que substituiu Giselo Andrade foi dispensado de Administrador Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora do Monte, tendo sido nomeado pároco o Padre Victor Manuel Baeta de Sousa. Para assumir este cargo, o padre Victor de Sousa foi dispensado de Assistente – Adjunto da Junta Regional do Corpo Nacional de Escutas (CNE) – Madeira, cargo para o qual foi nomeado o Padre Hélder Reinaldo Abreu Gonçalves.

Sem se referir a este expediente, o padre não deixa de notar porque é que Giselo Andrade fica de fora. “Fica-me outra vez sem surpresa, atestado que é preciso cozer um padre em lume brando até que se «faça ao largo» para as missões ou para casar, pois seja só ele a resolver o imbróglio que a autoridade froixa não foi capaz de resolver. Não há terceira via, porque o poder que não serve, mas serve-se, manda e deseja que continue assim tudo aparecer o que não é. Quando se descarta um padre só porque comanda o medo e uma claque bate palmas a isso, andamos muito mal e de Evangelho, afinal, não faltará pregação e palavreado, mas fica zero absolutamente vivido”, escreve

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Por fim, entende que a Diocese dá “mau exemplo para uma sociedade que se bate com tanto filho por aí a ser deixado ao Deus dará e que para receberem a dignidade da paternidade começam a vida na barra dos tribunais e jogados para os cuidados das instituições estatais”. E conclui: “À face de tudo isto muitos pensarão seguramente, se esta igreja trata os seus «trabalhadores» e filhos diletos desta forma, como procederá com os outros?”