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Português com posição sólida entre as dez línguas mundiais mais importantes

O português ocupa uma posição sólida entre as dez línguas mundiais mais importantes pelo número de falantes de língua materna e presença global, mas apresenta como debilidades a economia e falantes de língua segunda, segundo um estudo hoje divulgado.

“Quaisquer que sejam os critérios utilizados para ordenar a importância das línguas nos nossos dias, a língua portuguesa mantém uma posição sólida entre as dez línguas mundiais mais importantes”, conclui o estudo “A língua portuguesa como ativo global”.

Coordenado pelo investigador do ISCTE Luís Reto para o Camões -- Instituto da Cooperação e da Língua, o trabalho foi divulgado a propósito do primeiro Dia Mundial da Língua Portuguesa, que se assinala hoje, por decisão da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

O estudo, que está disponível para ‘download’ gratuito hoje, dá continuidade aos anteriores “O potencial económico da língua portuguesa” (2012) e “Novo Atlas da Língua Portuguesa” (2016) e pretendeu elaborar um primeiro índice das línguas mundiais mais relevantes, partindo de uma base de 110 línguas com mais de um milhão de falantes.

O trabalho avaliou critérios como o número de falantes de língua materna (L1) e língua segunda (L2), o impacto global (economia, recursos naturais, comunicação, influência mundial) e o potencial de cada língua.

“Estando sempre presente em todas as ordenações ocupando as 7.ª e 6.ª posições, apresenta duas dimensões de alguma debilidade (a economia e falantes L2), ostentando, porém, pontos fortes ao nível dos falantes maternos, dos recursos naturais e da presença global”, refere-se na investigação.

O português surge em 7.º lugar quando considerados individualmente os critérios relativos ao número de falantes L1 e L2 e ao impacto global e sobe para a 6.ª posição, quando a estes dois critérios combinados se junta o potencial.

A classificação apresenta um primeiro grupo de línguas que são simultaneamente fortes em número de falantes, na economia e na influência global: mandarim, inglês, espanhol e árabe.

Neste grupo, surge ainda classificado o francês, pelo elevado número de falantes L2 (mais de 200 milhões), embora com um número reduzido de falantes de primeira língua.

Num segundo grupo surgem línguas consideradas mais locais, mas com grande peso em termos de falantes e de potencial de expansão como o híndi, punjábi e bengalês.

O terceiro grupo é ditado pelas dimensões económica e de presença global e inclui o russo, japonês e alemão.

Os autores do estudo consideram como “primeira grande fraqueza” para uma maior imposição do português a nível mundial as fragilidades económicas dos Estados que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“Os dois grandes países africanos (Angola e Moçambique) enfrentam ainda níveis de desenvolvimento económico e humano muito abaixo do seu potencial e o Brasil, a nona potência económica do mundo, não teve o crescimento económico previsto que apontava para que hoje fosse já a quinta economia mundial”, adianta a análise.

Por seu lado, prossegue, Portugal “foi um dos países mais atingidos pela recente crise económica e só agora começou a alcançar os níveis de desenvolvimento pré-crise”.

De acordo com os investigadores, esta fragilidade económica resulta numa falta de investimento “em larga escala” numa política da língua em toda a CPLP.

O estudo aponta, por outro lado, como fatores favoráveis à expansão do português as projeções demográficas para os países da comunidade lusófona, bem como a sua riqueza em recursos naturais e localização geoestratégica.

“Os países falantes maternos do português estão presentes em quatro continentes e são uma comunidade linguística determinante em dois deles, América e África, o que permite tecer uma rede de influência e de diplomacia de enorme alcance”, refere.

Por isso, sustentam os autores do documento, “torna-se urgente que os diversos estados da CPLP, com particulares responsabilidades para Portugal Brasil, disponibilizem recursos que permitam efetivar uma política de língua que vá muito para além do ensino como língua das diásporas, de herança ou de cultura”.

“Uma língua que detém a 6.ª ou 7.ª posição mundial em falantes maternos e que duplicará o número atual até ao fim do século tem de investir os seus recursos com uma ambição maior”, consideram.

Sublinham, por isso, a necessidade de “desenvolver um ensino massivo de português como língua segunda” em mais países e comunidades do que as atualmente abrangidas pela rede do instituto Camões ou dos centros culturais do Brasil.

A língua portuguesa é falada por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes, estimando-se que, em 2050, terá quase 400 milhões de falantes e, em 2100, mais de 500 milhões, segundo as Nações Unidas.

As nove economias da CPLP, em conjunto, valem cerca de 2.700 milhões de euros, o que faria deste grupo a sexta maior economia do mundo, se se tratasse de um país, segundo o FMI.

Integram a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

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