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Madeira regista maior taxa de mortalidade por doenças respiratórias da Europa

Relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias diz que doenças respiratórias matam duas pessoas por hora em Portugal

FOTO Getty Images
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O 13.º relatório do Observatório Nacional de Doenças Respiratórias (ONDR) revela que as doenças respiratórias matam, em média, 48 pessoas por dia (duas por hora) em Portugal. A Madeira destaca-se neste estudo ao registar a maior taxa de mortalidade por doenças respiratórias da Europa.

De acordo com o relatório, em 2016 morreram 13.474 pessoas por doenças respiratórias, sendo que o número aumenta para mais de 17 mil se forem acrescentados os óbitos por cancro da traqueia, brônquios e pulmão.

Taxa de mortalidade bate recordes

As doenças respiratórias são, desde 2015, a terceira causa de morte, logo após o cancro, sendo responsáveis por 19% de todas as mortes em Portugal.

Em termos europeus, a taxa nacional de mortalidade por doenças respiratórias em Portugal Continental e nas Regiões Autónomas é das mais elevadas, ultrapassa os 115 por 10 mil habitantes, com a Madeira a registar a maior taxa da Europa.

Os especialistas estimam que em 2020 as doenças respiratórias sejam responsáveis por cerca de 12 milhões de mortes anuais em todo o mundo.

Pneumonia representa 44% das mortes

O documento mostra que se forem excluídos os cancros da traqueia, brônquios e pulmão, as doenças respiratórias matam, em média, 37 pessoas por dia em Portugal, com as pneumonias a representarem 44% destas mortes.

“Este número é particularmente relevante, visto a pneumonia ser uma patologia potencialmente curável”, assinala o documento.

As mortes por pneumonia afectam sobretudo os mais velhos, sendo que em 94,3% os doentes tinham 65 ou mais anos e em 87% tinham 75 ou mais anos.

O documento aponta também para uma “alta prevalência de internamentos por pneumonia como diagnóstico principal, representando cerca de 7% dos internamentos médicos” e perto de 5% de todos os episódios de internamento médicos e cirúrgicos.

A mortalidade por doença pulmonar obstrutiva crónica é também relevante, representando em 2016 cerca de 20% de todos os óbitos por doença respiratória, vitimando 2.791 pessoas.

Já a asma, que tem relevância em termos de morbilidade, representa apenas 1% do total das causas de morte por doença respiratória.

Doenças respiratórias são primeira causa de internamento

Os internamentos por doenças respiratórias aumentaram mais de 25% em dez anos e o número de doentes submetidos a ventilação mecânica mais do que duplicou.

Em 2007 Portugal registava menos de 90 mil internamentos por doenças respiratórias, valor que passou para mais de 112 mil em 2016.

Quanto aos doentes internados submetidos a ventilação mecânica, em 2007 eram cerca de 9.300 e dez anos mais tarde mais de 21 mil.

Quanto aos custos, o relatório recorda dados de 2013, que apontam para que os internamentos por doença respiratória signifiquem mais de 210 milhões de euros.

Tabaco é factor de risco

O tabaco continua a ser um factor de risco importante para inúmeras doenças respiratórias: foi responsável por 46,4% das mortes por DPOC, 19,5% das mortes por cancro, 12% das mortes por infecção respiratória inferior.

Segundo o Institute of Healths Metrics and Evaluation, em 2016 morreram em Portugal 11.800 pessoas devido a doenças relacionadas com o tabaco, o que corresponde à morte de uma pessoa por cada 50 minutos.

Observatório defende investigação ao ar dos edifícios

O Observatório Nacional das Doenças Respiratórias recomenda que seja feita uma investigação à qualidade do ar nos edifícios portugueses para que se possa adoptar formas de melhorar a saúde.

“Infelizmente, existem poucos dados sobre a qualidade do ar interior nos edifícios portugueses e, muito menos, sobre a eventual evolução positiva ou negativa”, refere o Observatório no relatório deste ano.

“Recomenda-se, pois, que se faça um esforço de investigação grande uma vez que, das conclusões, poderão surgir formas de melhorar a nossa saúde”, avança, sublinhando que a qualidade do ar influencia fortemente a saúde respiratória.

“Podem tomar-se medidas que promovam a qualidade do ar que os portugueses respiram”, defende o Observatório naquele documento, acrescentando que há cada vez mais evidências de que mesmo a exposição a pequenas concentrações de poluentes é perigosa.

A entidade aponta ainda estar preocupada que a deficiente ventilação em infantários aumente a percentagem de crianças com pieira ou asma e com o fumo de tabaco no interior das habitações, defendendo que deve ser “abolido o hábito de se fumar em ambientes fechados”.

O uso de combustíveis fósseis ou de matéria orgânica para o aquecimento e para cozinhar é gerador de poluição, mas “o seu impacto não está devidamente avaliado em Portugal”, alerta.

Apesar de referir que “em Portugal a qualidade do ar é, em geral, boa”, o Observatório alerta que ainda persiste “um número significativo” de dias em que a qualidade do ar é média ou mesmo fraca.

O Observatório avisa ainda que “a humidade nas habitações favorece o aparecimento de fungos e tende a fazer aumentar a concentração de poluentes”, referindo que há estudos que apontam para uma taxa de 20% das casas portuguesas com problemas de humidade.

Apesar dos números, o relatório do ONDR conclui que há muito a fazer em termos de prevenção e que menos de 2% dos doentes com indicação para reabilitação respiratória têm acesso ao tratamento.

O 13.º relatório do ONDR é apresentado esta quinta-feira (13 de Dezembro), no auditório dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa.