Crónicas

Vamos descolar

Precisamos de uma nova estratégia para o turismo que abranja a melhoria do destino e dos seus atrativos,

A Madeira vive do mono produto Turismo e dificilmente será diferente a curto e a médio prazo. É assim há muitos anos e assim será por muitos e bons anos. O setor representa mais de 25 por centro do Produto Interno Bruto e emprega, direta e indiretamente, mais de 30 mil pessoas. É o nosso sustentáculo económico e, nos últimos anos, teve um crescimento significativo como aconteceu a nível nacional, porque o país entrou na moda, houve uma promoção mais agressiva e registou-se um desvio de turistas de destinos inseguros da bacia do Mediterrâneo. Com o regresso da paz a estas paragens, agora a praticarem preços de saldo para reganharem mercados, naturalmente que a Madeira e as Canárias e outros destinos são afetados. Este movimento choca com o crescimento exponencial da oferta hoteleira regional e do alojamento local. Até o final do ano teremos mais 1.500 camas e há vários outros empreendimentos em construção. Ora, este boom coincide com um decréscimo da procura do destino Madeira, por um abrandamento económico europeu, pelos baixos preços dos destinos antes inseguros, pela falência de várias companhias aéreas, pela diminuição das frequências e pelos problemas de operacionalidade do nosso aeroporto. Um dado que deve merecer, também, reflexão e, sobretudo, fiscalização e ação, é a fraca de qualidade dos serviços de algumas unidades hoteleiras, bem como alguns “enganos” no alojamento local.

Segundo alguns especialistas, apesar do reforço de voos da TAP, a Madeira tem neste momento um défice de 30 por cento entre o número de camas e os lugares disponíveis nos aviões. Os números oficiais de janeiro a abril deste ano, comparativamente ao mesmo período do ano passado, fizeram soar as campainhas de alarme. O melhor destino insular da Europa teve menos hospedes (-1,7%), dormidas (-1,2%), com a consequente redução da taxa de ocupação (-5,1%) e quanto a receitas o Ver Par baixou (8,6%) e os proveitos globais desceram (-6,5%), contrariando a tendência nacional de subida. As previsões para os próximos tempos não são as melhores.

Precisamos de uma nova estratégia para o turismo que abranja a melhoria do destino e dos seus atrativos, a qualidade e a quantidade da oferta turística, a requalificação da oferta, mais transporte aéreo e uma melhor promoção das nossas ilhas, pese embora o bom trabalho que tem vindo a ser efetuado pela Associação de Promoção. Mas falta vontade e decisão política para ir mais longe.

Como o CDS tem defendido é urgente uma terceira companhia aérea que ligue a Madeira a Lisboa e a outros destinos europeus, com consequente mais concorrência e ganhos para viajantes , residentes e para o Orçamento do Estado, precisamos de aumentar a frequência de voos das atuais rotas e necessitamos de ligações a novos mercados emissores, para que o principal setor económico regional continue pujante e a sustentar o nosso desenvolvimento.

O Governo Regional borregou nesta área e não pode continuar passivo perante o que se está a passar e o que se avizinha para o Turismo da Madeira. Em vez de reação perante os acontecimentos, precisamos de ação e de iniciativa, antecipando os problemas e promovendo as soluções. Precisamos de descolar com segurança.

Uma outra matéria que preocupa, é a inoperacionalidade do aeroporto ao longo do ano. Aquilo que só acontecia no inverno, ocorre agora, na primavera e no verão e a imagem do destino fica manchada e as companhias começam a fazer contas aos prejuízos. Está na altura de pressionar a ANAC (Autoridade Nacional de Aviação Civil) para que conclua os estudos sobre os limites de vento no aeroporto da Madeira e, sobretudo, para que decida sobre o carácter mandatório ou não das aterragens e descolagens na pista que impera desde a sua construção em 1964. Por ouro lado, e independentemente da conclusão desses estudos, é imperioso que se concretize a instalação dos equipamentos meteorológicos e de auxílios à aproximação das aeronaves ao aeroporto.

Sabendo que os níveis de intensidade do vento têm vindo a aumentar na zona de Santa Catarina e que é previsível que aumente o número de dias em que o aeroporto vai estar inoperacional, importa ter um verdadeiro Plano de Contingência que responda aos problemas criados por essa situação, menorizando ao máximo as dificuldades dos passageiros, melhorando o apoio da gare e dos serviços de hotelaria que lhes são prestados e preparando o Porto Santo como aeroporto alternativo, para que se possa recorrer ao transporte marítimo para resolver os problemas de chegada e de partida do destino.

Temos mais hotéis e mais camas nas nossas ilhas e precisamos de ter mais turistas para rentabilizá-las, mas isso depende de termos mais e melhores transportes aéreos para a Madeira e para o Porto Santo. Aqui reside o busílis de tudo.