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Populismo Verde

Contrariamente ao que alguns possam estar a pensar neste momento, não tenciono dedicar este artigo a insultar a jovem sueca

Perante um mês extremamente insonso no que toca a factos criminais, vejo-me “forçado” a abordar um tema que ainda não tinha tido a oportunidade de comentar, apesar de o ter querido fazer já há uns meses. Porque não nos afastarmos dos comuns populismos de esquerda e direita, mais típicos, mas não exclusivamente, da “velha geração”, e examinar aquele que atualmente atinge as gerações mais novas – o populismo ambiental/verde?

A preocupação pelo meio ambiente e pela preservação da Natureza não é de forma alguma um tema novo, estando a história repleta de exemplos de indivíduos e de grupos que dedicaram as suas vidas às causas ambientais. Uns de forma extremamente positiva, como Jacques Cousteau, Steve Irwin e a organização WWF, e outros de forma extremamente negativa como a PETA, sem deixar esquecer todos os outros indivíduos e organizações que se vão distribuindo por este espectro.

Na atualidade, contudo, as coisas tomam outros contornos, nomeadamente através dos discursos proferidos por celebridades (como é exemplo a insinuação de Natalie Portman muito pouco discreta de que quem come carne assemelha-se a um Nazi) e por recém-ativistas que acabam por ser absorvidos pelo seu próprio discurso, como acredito ser o caso de Greta Thunberg.

Contrariamente ao que alguns possam estar a pensar neste momento, não tenciono dedicar este artigo a insultar a jovem sueca. Para uma análise de prós e contras acerca dela, já há inúmeros artigos de opinião tanto nos meios nacionais como nos meios internacionais. Prefiro antes descrever o movimento que esta sueca desencadeou com o seu discurso na Cimeira das Nações Unidas, um discurso que apesar de carregar muita verdade foi proferido com tal fúria que até agora tem servido mais de ponto de rutura social que de outra coisa qualquer.

A verdade é que esta nova leva de ambientalistas é tal e qual qualquer outra onda populista: “quem discorda de mim é meu inimigo”, “os fins justificam os meios”, “qualquer crítica é um ataque” e “não há mais problemas se não aqueles em que eu acredito”, diferenciando-se bastante daqueles que vieram antes de Greta. A isto ainda se junta o facto da incoerência em que incorrem e que exemplifico com o caso que testemunho aqui no Porto. No dia 27 de Setembro ocorreu uma manifestação em defesa do meio ambiente na cidade do Porto e, como seria de esperar, teve que ser publicitada com o recurso à colagem de posters em edifícios públicos. Nada de particularmente péssimo até chegarmos ao ponto de que no dia em que este artigo é escrito, os ditos posters ainda lá estão colocados e aqueles que foram removidos apenas o foram à custa da chuva. Ou seja, se quiserem dar uma volta pelo Porto poderão ser agraciados com um passeio várias vezes “decorado” com papel empastado. Surgem-me as seguintes dúvidas: isto não é poluição na mente destes jovens ativistas? Porque é que quem é encarregue de limpar a dita sujeira é o funcionário camarário que ganha ordenado mínimo e ainda tem que ser criticado pelos mesmos ativistas pelo facto de consumir produtos de origem animal?

É um assunto que pessoalmente considero insultuoso e digo-o enquanto pessoa que acredita que as nossas ações têm efetivamente impacto a nível ambiental e que algo tem que ser feito de forma a contrariar isso, principalmente em relação às grandes empresas e países poluidores. Contudo não é através da diabolização de toda a população que não é vegan nem através da imposição de “lei marcial” ao estilo do que fez a Universidade de Coimbra em relação à carne de vaca nem de outras ações hipócritas. Relembro que muitos destes ativistas apenas apareceram depois das afirmações de Greta, o que revela que pouco se preocupavam com o meio ambiente, visto que a crise climática em que atualmente vivemos está longe de ser recente e sempre foi bastante divulgada.

Infelizmente, sei que este artigo será muito provavelmente visto com antagonismo por parte das pessoas a que se refere. Todavia, não é isso que pretendo. Cada vez mais, vivemos numa sociedade fraturada por inúmeros problemas e discórdias e o que tenciono é chamar a atenção para estes problemas que têm que ser corrigidos para que possa existir algum consenso entre as partes. Porque a verdade é que nunca nínguem se tornou mais cuidadoso com os efeitos das suas ações à custa de trocas acesas de insultos.