Análise

Uma mão cheia de nada e a cegueira do PCP

O Congresso do PSD-M do fim-de-semana passado foi uma ocasião perdida para o maior partido da Região arquitectar o futuro projectar-se nas próximas décadas. Tinha essa obrigação, mas não o fez. Foi um momento globalmente baixo para a actual liderança de Miguel Albuquerque, cuja renovação que tomou conta do partido em 2014, desapareceu por completo do seu léxico ‘ideológico’. A esperança de um novo rumo prometido há cinco anos sucumbiu ao receio – partilhado em surdina por muitos dos que ocuparam as cadeiras do Centro de Congressos – e à urgência de uma vitória eleitoral em Setembro próximo, que neste momento está cada vez mais longe de ser assegurada. Como se as pessoas que votam se importassem com jogos de bastidores. Albuquerque, ao estender a passadeira vermelha a Alberto João Jardim, que a usou de uma forma mais consistente e convincente, passou um atestado de incompetência à geração, da qual faz parte, que comandou o PSD-M nos últimos anos. Os paladinos da renovação afinal não tinham unhas para gerir e manter a proximidade do partido com o eleitorado, como a recente sondagem do DIÁRIO espelhou. Aliás, bastava olhar para a segunda fila do congresso para ver, alegre e sorridente, a velha guarda pretoriana do regime jardinista, a rejubilar com o regresso do amado líder, o verdadeiro protagonista que continua a traçar o caminho a seguir e a indicar os nomes que devem integrar as ambicionadas listas de deputados. Estava tudo alinhadinho. Miguel Albuquerque não aquece nem deslumbra o coração dos militantes como Jardim o faz, apesar de todas as tropelias cometidas nos últimos anos de governação e da fragmentação em que fez mergulhar o PSD na hora do adeus (que não o foi, como podemos constatar). Para o actual líder o programa da sua acção assenta quase exclusivamente no seguinte chavão: contra Lisboa, marchar, marchar! (Onde já ouvimos isto?) Daqui a nada ressuscitará sanhas antigas, como a ‘trilateral’, o lóbi gay ou a maçonaria. Para ganhar Setembro vale tudo, até mesmo rasgar as vestes que o levou a conseguir uma empatia respeitável com a população e a esperança de muitos descontentes e indignados com a herança de seis mil milhões de euros deixada por Jardim. A memória é curta, mas a penúria dos anos da crise deixou uma marca que não se dilui com discursos feitos para levantar congressistas saudosistas de outros tempos.

A realidade da rua é diferente e não se compadece de estados de alma, nem de manobras partidárias e muito menos com gritos contra os ‘inimigos’ da autonomia e do PSD-M. A realidade política e social também é outra. Nunca o PS-M esteve tão perto do poder. Não é palpite, é constatação.

P.S. 1 - A situação da Venezuela é demasiado grave para que a discussão se centre nas ideologias de alguns partidos portugueses. O problema da Venezuela é o problema da grande comunidade lusa que lá reside, que luta por comida, por cuidados de saúde, por educação.

Perante o quadro real não se consegue tolerar a posição do Partido Comunista, que nega as evidências e defende Nicolás Maduro, com as mais mirabolantes teorias que conseguem fazer arrepiar quem gosta de viver em democracia. As ditaduras de esquerda e de direita são ditaduras. Indefensáveis para quem defende a liberdade e o respeito pelos direitos humanos.