Análise

O que os números não escondem

Já o dissemos por diversas vezes: as emoções políticas andam à flor da pele num ano marcado por três actos eleitorais, dois deles extraordinariamente decisivos para os partidos do arco da governação. Esse estado não é bom conselheiro para a resolução dos problemas que persistem e, nalguns casos, agravam-se, na sociedade madeirense. Longe dos tacticismos políticos, dos exercícios partidários que já iniciaram a luta por lugares nas listas de deputados, há dilemas e obstáculos que aguardam por iniciativa e decisão governamental, já. Não basta pôr a cassete a rolar e repetir obsessivamente que a economia cresce há sessenta e tal meses consecutivos, quando somos confrontados, por exemplo, com a mais alta taxa de desemprego do país. Em 2018 a Madeira registou uma taxa de 8,8%, atrás dos Açores (8,6%) e do continente (7%). No último trimestre do ano o valor subiu e fixou-se em 8,9%, contra os 8,5% açorianos e 6,7 continentais. Os números das estatísticas não mentem e vêm demonstrar que o desemprego na Região merece combate prioritário, determinado e criativo. Não chega regozijar-se com a descida recente da taxa. Muitos factores contribuíram para a descida do desemprego, manifestamente insuficiente para colocar a Região no grupo da frente das que mais postos de trabalho criaram. A emigração dos últimos anos, impulsionada pela troika e pelo PAEF, foi um deles. Em Dezembro passado mais de 8.300 pessoas estavam sem trabalho há mais de um ano na Região, o que denota a falta de um projecto eficaz que responda a um dos maiores dramas sociais. O regresso de muitos luso-venezuelanos também veio agravar o problema, como sabemos. Não basta o governo vangloriar-se com a baixa estatística do desemprego, nem a oposição anunciar mundos e fundos sem mostrar um plano bem estruturado e pensado, que sustente um volte face. Há, actualmente, mais trabalho do que nos anos anteriores, mas muito desse trabalho é precário, a tempo parcial. Englobou 22.100 no quarto trimestre. Há ainda o subemprego e os ‘nem-nem’ (que não trabalham nem estudam) e os que não querem efectivamente trabalhar, mas apenas usufruir das regalias do estatuto de desempregado, como noticiámos recentemente. O desemprego atingiu mínimos de 2011 mas mantém-se no valor mais alto do país. Um dado que importa reter e reverter, apesar do tempo ser mais de campanha eleitoral. A realidade não esconde esta evidência, também matemática.

Nota 1: Em vez de pedir desculpa pelo estado degradado e desumano em que se encontra o Hospital dos Marmeleiros, o responsável pela Saúde na Região aproveitou um evento público para zurzir nos que ousam criticar publicamente a deterioração da unidade. Como se o cidadão, com mais ou menos notoriedade, não pudesse expressar livremente o que lhe entra pelos olhos dentro, denunciando publicamente o que se tornou há muito na verdadeira ‘casa dos horrores’ do parque hospitalar do país. Como se o desinvestimento na Saúde, explícito no contrato deste ano entre o Governo e o SESARAM, seja um facto que possa passar despercebido e relegado para o campo do “mero exercício matemático”. Quererá o Governo Regional que as pessoas se demitam dos seus deveres de cidadania e que prescindam do direito à indignação?

Nota 2: O PCP votou contra uma proposta na ALM que preconiza a realização de eleições livres na Venezuela. Estamos conversados quanto ao conceito de democracia decretado pelo Comité Central, agora ratificado pelos camaradas da Madeira. Caiu-lhes a máscara, após semanas de silêncio cínico, bem como ao Bloco de Esquerda.