Mundo

Irlanda acusa Boris Johnson de colocar Londres em “confronto frontal” com UE

FOTO Reuters
FOTO Reuters

O chefe da diplomacia irlandesa acusou hoje o novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de colocar de forma deliberada o Reino Unido “num caminho de confronto frontal” com a União Europeia (UE).

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Irlanda, Simon Coveney, falava em Belfast após uma reunião com o recém-nomeado secretário de Estado britânico para a Irlanda do Norte, Julian Smith.

“Parece ter tomado uma decisão deliberada de colocar o Reino Unido num caminho de confronto frontal com a UE e a Irlanda nas negociações do ‘Brexit’ [como é conhecido o processo da saída britânica do bloco comunitário]”, declarou Simon Coveney, numa entrevista à estação de televisão irlandesa RTE.

Naquele que foi o seu primeiro discurso na Câmara dos Comuns (câmara baixa do Parlamento britânico) enquanto primeiro-ministro, Boris Johnson voltou a insistir, na quinta-feira, na renegociação do Acordo de Saída da UE, documento concluído pela sua antecessora Theresa May e por Bruxelas e que já foi rejeitado três vezes pelos parlamentares britânicos.

Boris Johnson defendeu, em especial, a eliminação do chamado ‘backstop’, o mecanismo de salvaguarda da fronteira irlandesa, uma proposta de modificação já considerada como “inaceitável” pelo negociador-chefe da UE para o ‘Brexit’, Michel Barnier.

No dia anterior, o novo primeiro-ministro britânico já tinha classificado como “antidemocrática” a solução de salvaguarda para evitar o regresso de uma fronteira física na ilha da Irlanda, que prevê a criação de “um espaço aduaneiro único” entre a UE e o Reino Unido e que só seria activada caso a parceria futura entre Bruxelas e Londres não ficasse fechada antes do final do período de transição.

Ainda em declarações à RTE, Simon Coveney disse que irá recordar o dia do discurso de Boris Johnson na Câmara dos Comuns como “um dia muito mau” para as negociações do ‘Brexit’, reforçando que as palavras do novo líder britânico “não ajudaram em nada”.

“Temos de esperar para ver se a mensagem de Londres vai mudar”, afirmou ainda Coveney à estação irlandesa.

Já numa mensagem publicada na rede social Twitter, Simon Coveney disse que teve “uma boa reunião” com o novo secretário de Estado para a Irlanda do Norte, Julian Smith, durante a qual destacou “a importância de os Governos irlandês e britânico trabalharem em conjunto para garantir o Acordo de Sexta-Feira Santa (também chamado Acordo de Belfast)”.

Assinado na Páscoa de 1998, o Acordo de Belfast foi um documento fulcral no processo de pacificação do Ulster (Irlanda do Norte), cujo sucesso se baseia, em parte, na invisibilidade de uma fronteira entre aquela província britânica e a República da Irlanda.

A Irlanda teme que, em caso de uma saída britânica sem acordo da UE, uma hipótese considerada por Boris Johnson, o reaparecimento de uma fronteira terrestre e de controlos fronteiriços entre a Irlanda do Norte e a vizinha Irlanda provoque um ressurgimento da violência.