Madeira

Madeira é o arquipélago da teoria da evolução

None

No mês da Educação e Ciência, promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), a importância da Madeira para a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin, esteve em debate esta sexta-feira no Colégio dos Jesuítas.

O evento aconteceu em duas fases: a 1ª parte dedicada ao naturalista e à sua obra “A Origem das Espécies”, e a segunda para apresentar o livro da Pordata, “Retratos da Madeira”, seguido de uma conversa sobre o tema.

A FFMS propõe um olhar integrado sobre a Educação e a Ciência, neste mês de Novembro, com vista ao desenvolvimento do país. Várias palestras correram pelo território continental, sobre os mais variados temas, e a Madeira também fez parte da lista da Fundação. O contributo da Região para a Teoria da Evolução foi um dos pontos de partida.

É que apesar das Galápagos serem mais reconhecidas quando se fala da obra “A Origem das Espécies”, de Darwin, “o arquipélago da evolução é a Madeira”. As palavras são de Thomas Dellinger, biólogo e docente da Universidade da Madeira, que foi um dos oradores. O investigador explicou mesmo que a conferência desta tarde, pretendia “reestruturar” esta ideia.

Charles Darwin não conseguiu chegar à Madeira, por causa da levadia do mar entre as Desertas e a ilha, e acabou por seguir para Tenerife (onde também não conseguiu chegar a terra por causa de uma quarentena) e depois para Cabo verde. Mas o naturalista investigou e trocou cartas com colegas que conseguiram chegar à Madeira, podendo estudar a ilha. Da conferência fica uma ideia central: a troca de correspondência com naturalistas a residirem na Madeira foi importante para que Charles Darwin construísse a sua teoria da evolução das espécies.

A primeira edição de “A Origem das Espécies” foi lançada em 1859, mas antes, o investigador fez um Relato de Viagem, de leitura mais acessível, e foi esse trabalho que chegou às massas. Nesse relato, porque Darwin não conseguiu desembarcar na illha, a Madeira só é referenciada uma vez, contra os Açores, que aparecem nove vezes, as Canárias, que aparecem 4, e as Galápagos, que são mencionadas 25 vezes.

Mas mais tarde, tanto na primeira edição de “A Origem das Espécies” como na edição revista, lançada em 1876, “as cartas e citações de Darwin sobre a Madeira disparam”.

O naturalista trocou correspondência com geólogos, botânicos e vários outros especialistas - entre eles, Ernst Haeckel, que passou pela Madeira, e “foi um defensor do naturalismo na Alemanha e na Europa Central”, lembrou Thomas Dellinger.

Os insectos e a geologia faziam parte das áreas que, na Madeira, suscitavam mais curiosidade a estes investigadores.

Também Nuno Ferrand, professor no Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências, da Universidade do Porto, onde ensina genética e evolução, foi o orador na palestra. Sublinhando que “a Madeira é especial”, o biólogo debruçou-se sobre a história de uma coelha selvagem, prenhe, trazida por Bartolomeu Perestrelo para a Madeira na esperança que o animal se reproduzisse e os coelhos fossem uma fonte de alimento. Assim aconteceu. Passados 440 anos, Darwin interessou-se pela história e utilizou-a para estudar a evolução das espécies. Assim como Nuno Ferrand, 600 anos depois: “Ele [Darwin] estudou muito os coelhos da Madeira e do Porto Santo, escreveu muito sobre isso”.

Muitos colegas de Darwin viajavam para a Madeira por motivos de doença e era através deles que o naturalista estudava os animais da Madeira. Primeiro enviaram-lhe coelhos mortos, depois vivos. Darwin chegou a pensar que a coelha trazida por Bartolomeu Perestrelo tinha originado uma nova espécie, mas depois de uma profunda investigação recuou. Conta Nuno Ferrand: “Afirmou que já não era uma nova espécie, mas uma aceleração de uma adaptação ao meio ambiente [do Continente para a Madeira]”. Aponta o biólogo: “É uma extraordinária história do povoamento da Madeira e do Porto Santo, sobre ambiente, sobre quem era de facto Darwin. Como um episódio que é só nosso, o dos Descobrimentos, ele foi atrás e provou que, afinal, estava enganado, através daquilo que foi a prova da origem das espécies”.