Alerta urgente
A Circulação Meridional do Atlântico (AMOC) que está ilustrada de forma simplificada na Figura é o principal sistema de circulação de correntes no Oceano Atlântico, consistindo numa corrente superficial de água quente e salgada para Norte, indicada pela cor vermelha, e uma corrente de água mais fria e profunda para Sul, indicada pela cor azul. À medida que a água quente se aproxima da Gronelândia fica mais fria e pesada, afundando-se e tornando-se parte da corrente que vai para o sul. A AMOC transporta calor de Sul para o Norte, tendo um papel fundamental na regulação do clima na Terra, sendo essencial para manter o norte da Europa com temperaturas mais quentes, controlando as zonas de precipitação nos trópicos e muito mais. É também um sistema frágil que já colapsou várias vezes na história geológica. O ponto mais frágil é a região junto à Gronelândia onde a água se afunda.
Devido às alterações climáticas, as temperaturas do ar estão a subir, acelerando o degelo na Gronelândia e aumentando a quantidade de água enviada para o Atlântico. Esta água não é salgada e, por isso, é menos pesada, reduzindo a profundidade de afundamento da água da superfície no mar. Sabemos que quando esta diminuição de profundidade atingir um certo ponto, não será possível interromper o processo e a circulação do AMOC colapsará. Este ponto é chamado por “Tipping Point” ou ponto de não retorno. O problema é que até agora ninguém sabia quando se poderia atingir este ponto de não retorno. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) escreveu mesmo no seu relatório de 2021 que este ponto de não retorno não seria ainda atingido neste século. Mas estudos mais recentes revelaram agora que o “Tipping Point” poderia acontecer ainda neste século. Recentemente investigadores da Universidade de Utrecht dos Países Baixos publicaram dois estudos baseados em modelos complexos que preveem que o colapso da AMOC se iniciará por volta do ano 2060. Três outros estudos também indicaram o colapso da AMOC neste século.
Se isso acontecer, os resultados vão ser dramáticos. As temperaturas na Escandinávia vão descer entre os 10 e os 30 graus Celcius no inverno. O clima nesta zona vai ser mais seco e com tempestades muito mais fortes. A produção agrícola vai, no Norte da Europa, diminuir drasticamente, sendo que esta diminuição pode atingir os 70% em Inglaterra. Em África, as zonas climáticas vão deslocar-se para o sul dando origem secas ainda mais severas na região do Sahel. A estação das chuvas tornar-se à estação seca e vice-versa, causando distúrbios ecológicos significativos. Como resultado, milhões de pessoas vão passar fome, por falta de água e segurança alimentar. Na América do Sul o movimento das zonas climáticas e a inversão das estações chuvosa e seca vão ser uma ameaça para as florestas da Amazónia e poderão levá-las a que atinjam o seu próprio “Tipping Point”. Por fim, quando o transporte de água do mar para o norte for bloqueado, o mar nas zonas mais a sul do Oceano Atlântico, irá aquecer e acelerar o degelo de partes de Antártida. Assim, corremos o risco de o nível médio da água mar poder subir até dois metros já neste século.
Como dizem os famosos professores de ciências climáticas, James Hansen (Columbia University) e Stefan Ramsdorf (Potsdam Institute for Climate Impact), o colapso do AMOC seria uma catástrofe irreversível que deve ser evitado a qualquer custo. Ainda há tempo para reduzir de forma significativa as emissões de gases com efeito de estufa e limitar o aquecimento da Terra, mas temos mesmo que correr muito!