Complexo de superioridade?
Um plano que se inclina para outro lado, não se equilibra. Fazê-lo é artificial
Há na nossa comunicação social uma dificuldade evidente de tratar correctamente a informação sobre os dois grandes clubes da Madeira.
A rivalidade extrema no relacionamento das duas colectividades tornam impossível ter uma informação equilibrada do dia-a-dia e da avaliação histórica do seu percurso secular.
Para uns é a tentação de dar destaque ao seu clube preferido, para outros a procura por equidade de tratamento acaba sempre por beneficiar um deles. Muitas vezes caem na armadilha de para se mostrarem isentos dão mais projeção ao outro emblema.
Dia sem Diário não é dia. Chego às páginas do desporto e invariavelmente fico aborrecido. Não dão a relevância que, em minha opinião, o Nacional merece. Não se lembram do tratamento dado aos dois clubes nos muitos anos em que o Nacional andou na 2.ª Liga e o Marítimo na Primeira. Agora, parece que estão ambos na 2.ª ou na 1.ª.
Mas não é assim. Complexo de superioridade?
No Diário o Nacional não tem o destaque justo. Não se ofendam, mas é a minha opinião. É normal ter o Marítimo na primeira página do desporto e o Nacional na segunda? Com maior espaço, muitas vezes, para o clube de 2.ª Liga. O Marítimo vem artificial tentar reequilibrar o que se inclinou para o outro lado. O Emanuel Rosa é exemplo de dedicação exclusiva ao seu Marítimo. Merecidamente homenageado esta semana pelo seu Clube. Quem tem um Emanuel Rosa tem quase tudo: parabéns à sua “militância”.
Falta, ao Nacional, um igual. Ponto. Falta um Emanuel Rosa ao Nacional. Um acordo igual ao do Carlos Pereira com o Diário.
Até penso que, no desporto, a redação do Diário não tem quem seja do Nacional. Parece ser tudo do Marítimo. Não vou carregar mais nesta tecla. Cada jornalista desportivo tem o seu próprio clube, claro. E o seu critério pessoal, também. São profissionais competentes, fazem o seu trabalho. Não olham a comparações. Por isso o Nacional fica sempre em perda de notoriedade. Mas não é azar.
Devem suspirar pela subida do Marítimo. Reduzia muito incómodo. Na verdade, estão bem encaminhados.
Mas não se pode fazer um jornal apenas com jornalistas de uma única tendência política ou de um único clube.
O exemplo da RDP nacional é suficiente. Para os jogos de cada ‘grande’ relata um locutor desse clube. É sempre adepto do “grande”. Alguém imagina, nos “derbis” um locutor do Benfica aos gritos de satisfação num golo do Sporting? Não era possível, nem a RDP provoca essa impossibilidade emotiva. Nos jogos entre eles cada locutor relata o ataque do seu clube.
Ora, como o Diário trabalha sem alguém do Nacional?
Voltamos ao mesmo: acham que um jornal, só com jornalistas comunistas, faz um trabalho equilibrado?
Julgo que no futebol são mais radicais que na política. Porque acham que a responsabilidade é menor e não há crime de “lesa majestade”.
Por exemplo, no sábado, o Diário Online às 10,30 horas não tinha qualquer notícia do jogo do Nacional nessa tarde contra o Arouca. Na mesma hora já dispunha de duas notícias sobre o jogo do Benfica a realizar no final do mesmo dia. Às 13 horas continuava o apagão alvi-negro. O resultado do Marítimo para a Taça foi imediato. Toda a redação seguia o jogo no Jamor.
Pior foi segunda-feira na edição impressa. Nenhuma notícia do Marítimo. Como tal também nada tinha do Nacional.
São formas de estar num jornal privado. Que é legítimo, ainda que haja quem não aceite e proteste. É o caso deste escrito.
O exagero é bem evidente quando a “nossa” televisão teima em fazer acreditar, os mais incautos, que o União não morreu. A falência e desaparecimento do União devia ter dado lugar à merecida importância da Associação Desportiva da Camacha, ou da Associação Desportiva de Machico, claramente os terceiros maiores clubes em actividade. A Ribeira Brava luta pelo seu espaço. Ricardo Miranda é já um dirigente com currículo que elevou a Camacha a um patamar distinto. É um dirigente equilibrado e responsável. A sua opinião é importante. Porque está apagada?
Vedar o acesso à Camacha, e/ou ao Machico e Ribeira Brava, ao lugar do “falecido” União, é violência editorial. Só justificações de critério frágil podem proporcionar manter o tradicional representante azul-amarelo no “Prolongamento” - nada pessoal como é óbvio. Impede o acesso a quem legitimamente tem direito ao lugar que foi do histórico União. Quem o merece por mérito. Se houver lugar para um seria para o Camacha e para dois já caberia o Machico. Agora, nunca do União, qual fantasma do nosso futebol. Peço que não caiam no erro de quererem afirmar que os lugares nesse espaço televisivo não tem indicação nem representatividade clubista. Estão lá porque eram do desaparecido União. E agora, de quem são?
Seria impensável um programa político com todos do mesmo partido como um debate com todos do mesmo clube.
Mas, somos assim. Suportamos qualquer critério, mesmo que injusto, inadequado e sem ponta por onde se pegue. Muitas vezes são influências e outras dependências que tiram o critério acertado.
O receio de sermos varridos do mapa pela comunicação social é maior que o de passarmos a geralmente sermos mal tratados.
Pensar que ninguém vai reclamar é tão grave como admitir que “qualquer coisa está bem”. O ante-penúltimo Prolongamento, sem qualquer comentador do Nacional, não esteve bem. Proporcionou uma “conversa” entre três verde-rubros. Mais o moderador. Ao faltar o incumbente, substituía-se por outro. Como na política, o partido não falha porque um qualquer não está disponível. Aqui, parece haverem lugares intocáveis. Sem substituição.
Ainda na anterior 2.ª feira eram três do Marítimo e um do Nacional. Anteontem continuou a regra viciada de dois verde-rubros e um alvi-negro.
Não vale a pena bloquear crescimentos visíveis, previstos e imparáveis. O Nacional deveria estar em maioria e não está. Em qualquer dos programas a representação está desfasada da realidade actual. Porque um está aumentado e outro diminuído em relação ao seu estatuto actual? Inexplicável!
Percebo a delicadeza do arrumo político e desportivo que deve orientar a nossa RTP. É sinal que a queremos e procuramos melhorá-la. Com contributos positivos e construtivos.
O Nacional revela-se um clube, com SAD cem por cento própria, estabilizado e sem preocupações internas. Não tem dívida e isso garante-lhe um estatuto invejável. O maior sucesso de Rui Alves foi, em meu entender, o de ter proporcionado conquistas desportivas inolvidáveis, nomeadamente dois quartos lugares na 1.ª Liga, e ter o clube solvente. Isto é obra bem feita, rigorosa e bem sucedida que contrasta com as demais falências e outras dores existenciais.
Não quero ser implacável para com alguém mas é certo que o Nacional nunca recebeu incentivo dos demais competidores.
Hoje afirmamo-nos como líderes do futebol: O MELHOR DA MADEIRA. Se Benfica, Sporting e Porto jogam no Funchal devem-no ao Nacional.
Não foi sempre assim. Bem pelo contrário. Mas agora é! Não se sabe até quando, mas é! E há que respeitar este caminho difícil, que para muitos parecia impossível, e que valoriza e premeia o trabalho e dedicação de uma geração nacionalista liderada por Rui Alves.
Eu, com este alerta, procuro impedir que se queira perpetuar o mesmo como primeiro e fazer com que o extinto continue terceiro.
Se esperam pela ressurreição do União, qual D. Sebastião da bola regional, entretanto têm de dar o seu lugar à geração de clubes que crescem, constroem palmarés desportivos e são a prova que quem gere bem, com rigor e de forma responsável não “morre”.
Podem discordar, mas é a minha opinião. Um jornal como uma televisão podem ser privados. Mas não é o caso da RTP-M. E penso que um serviço público não tem o direito de manter, num programa desportivo regional, um clube extinto e vedar o acesso aos que já têm histórico, crescem com seriedade e estão, com esforço diabólico, procurando atingir um lugar principal.
Quem quiser enfiar a carapuça que o faça. Eu não vou abdicar do meu entendimento sobre o assunto. Quem não sente não é filho de boa gente.