3-4-3
Num clube com a história do Manchester United, cada gesto de liderança torna-se foco de análise. É o caso de Rúben Amorim, que insiste no sistema 3-4-3, mesmo perante críticas, piadas e desconfiança. Muitos dizem que deveria mudar, ceder à pressão, procurar atalhos. Mas o que está em causa não é apenas tática: é identidade, é espinha dorsal.
Desde o Sporting que o Amorim defende uma ideia clara: três centrais, alas projetados, intensidade na pressão, mobilidade ofensiva e coragem em apostar em jovens. Essa coerência deu títulos e reconhecimento. Hoje, em Old Trafford, enfrenta um desafio maior: um clube que procura reencontrar-se depois de anos de instabilidade.
Há quem diga que Amorim revela “imaturidade” e que não tem perfil para liderar. Essas críticas surgem sempre que os resultados demoram, quando o modelo não encaixa de imediato, quando o plantel parece curto para o desenho desejado. Mas convém recordar: resultados isolados não definem a validade de uma visão. O que conta é a capacidade de manter convicções mesmo quando surgem as primeiras adversidades.
Manter a espinha dorsal não significa ser inflexível até o absurdo. Trata-se de não abdicar daquilo em que se acredita só porque o ruído exterior exige mudanças rápidas. Amorim sabe que precisa de ajustar peças, corrigir dinâmicas e adaptar processos. Mas a sua matriz não pode ser trocada ao sabor do vento, porque identidade constrói-se com consistência.
O United precisa disso: estabilidade, coerência e estilo próprio. Os adeptos não querem apenas vitórias ocasionais, querem uma equipa reconhecível, que inspire confiança e orgulho. Para isso, é essencial confiar num líder que saiba o que quer.
Tal como no futebol, também na nossa vida profissional enfrentamos pressões diárias para mudar de rumo ao sabor das opiniões dos outros. Seja numa empresa, num hospital ou numa escola, não podemos estar constantemente a moldar-nos ao que é mais cómodo ou popular. Precisamos de manter princípios, mesmo quando isso exige resiliência e coragem.
Enquanto pais, vivemos o mesmo dilema: educar segundo convicções ou ceder à influência de uma sociedade cada vez mais rápida a julgar, mas lenta a compreender. Ensinar os filhos a manterem valores firmes é dar-lhes a espinha dorsal que os ajudará no futuro a não se perderem em modas passageiras ou em críticas vazias.
E, como cidadãos, enfrentamos diariamente a tentação de viver apenas para agradar, de olhar para o lado quando algo está mal, de ceder ao ruído em vez de defender convicções. É aqui que o exemplo serve: a espinha dorsal não é apenas do futebol. É da vida. É ela que nos permite permanecer fiéis a quem somos, mesmo num mundo cada vez mais absorto em opiniões alheias, esquecendo o essencial: sem convicções, não há identidade; sem identidade, não há futuro.