Transmissão intergeracional da educação
Intitulei um artigo que publiquei em 2010 de “Baixa escolaridade em Portugal – Transmissão intergeracional de um grande problema” [1] por considerar que o baixo nível educacional da população trabalhadora em Portugal era (e ainda é) um dos aspetos mais vulneráveis do nosso tecido económico.
Neste artigo apresentei os resultados obtidos com os dados do Inquérito à Educação de Adultos de 2007. Nesse inquérito era perguntado aos inquiridos qual o seu nível educacional e o nível educacional dos seus progenitores, além de todas outras questões sobre o seu percurso educacional e de formação profissional. Assim mais de 90% dos entrevistados tinha ambos os progenitores com o ensino básico ou menos e apenas 1,6% tinha ambos com ensino superior. Nos entrevistados havia ainda mais de 70% que tinha no máximo o ensino básico.
Relacionei o nível educacional do entrevistado com o dos seus progenitores e controlei por outras variáveis que poderiam ser relevantes e concluí que a probabilidade de uma pessoa do sexo feminino ter ensino superior era de 17% se ambos os pais tivessem até ao básico e de 76% se tivessem o ensino superior. Para uma pessoa do sexo masculino as probabilidades eram de 8% se ambos os pais tivessem até ao básico e de 64% se tivessem o ensino superior. Estes números mostram bem o papel da transmissão intergeracional, ou seja, a influência da educação dos pais no sucesso dos filhos, na perpetuação do baixo nível educacional em Portugal.
Relembrei este artigo ao consultar a publicação “Education at a Glance – 2025”[2] onde é referido: “A educação dos pais continua a ser um forte determinante do desempenho educacional dos jovens adultos. Nos países da OCDE, as pessoas de 25 a 34 anos cujos pais têm qualificação superior têm uma probabilidade significativamente maior de obter um diploma superior (70%) do que aquelas cujos pais não concluíram o ensino médio (26%)”. Para o caso português, em 2023, as percentagens são de 73% para os filhos de progenitores com ensino superior e de 23% para os de progenitores com menos do que o ensino secundário, um diferencial de cerca de 50 pontos percentuais, um valor muito elevado ainda que ligeiramente inferior ao que eu obtive com os dados de 2007.
Num País onde o nível educacional é baixo, a transmissão intergeracional irá dificultar o ultrapassar desta situação, por isso repito o que disse nas conclusões no artigo de 2010: “Face aos resultados é muito importante intervir no processo educativo para perceber se os filhos de pais com baixos níveis de escolaridade devem receber um apoio extra para que não abandonem os estudos precocemente… É importante que estudos multidisciplinares sejam feitos para ver que tipo de apoio está a faltar aos filhos de pais com baixa escolaridade”.
Como costumava dizer aos meus alunos de Economia de Educação: Para muitas crianças os apoios devem mesmo começar antes do seu nascimento porque a transmissão intergeracional de educação continua a ser um problema atual.
[1] Pedro Telhado Pereira, 2010. “Low educational attainment in Portugal – Intergenerational transmission of a big problem,“ Investigaciones de Economía de la Educación volume 5, in: María J. Mancebón-Torrubia & Domingo P. Ximénez-de-Embún & José María Gómez-Sancho & Gregorio Gim (ed.), Investigaciones de Economía de la Educación 5, edition 1, volume 5, chapter 1, pages 36-46, Asociación de Economía de la Educación.
[2] OECD (2025), Education at a Glance 2025: OECD Indicators, OECD Publishing, Paris,