Relâmpagos (apreciação crítica, como dever democrático)
O livro “Democracias Imperfeitas – Frustrações Populares e Vagas Populistas”, de Yves Mény, seria recomendável a todos. De leitura também desejável a cada um o livro “A Tirania da Maioria”, de Lani Guinier. O mui exaltado casamento entre o liberalismo e a democracia, está visto, tem resultado em desencanto, adultério e iliberalização.
O centro da legitimidade democrática - o povo -, é induzido a delegar o seu poder à dita “classe política”, em muitos casos a riscos do debate público livre e da participação cidadã ousada. Tensões, contradições e incoerências - pulsões dialéticas, digamos -, acompanham democracias, posto que estas, mais ou menos em consolidação, se vistas de perto nunca são perfeitas.
A narrativa, ora posta a circular, sobre uma suposta conspiração contra o regime democrático não passa de falácia, uma cortina de fumo para o inglês ver e perpetuar-se no poleiro. Ela tem claramente a intenção de activar milícias digitais e acantonar tudo às postagens nas redes sociais, neste período que se aproxima, pois já tresanda, ao eleitoral.
Como democracia perfeita se, pese embora o aparato e a engrenagem, há um cabresto de cabo invisível e insidioso que, a todos, condiciona? A própria expressão “inimigos da democracia”, novo jargão-papão, é descuidada, ressabiada e soa a arrogante. É antidemocrática!
Destarte, apesar da “malaise democratique”, a democracia não corre perigo entre nós. Haja continuidade ou alternância. Hala alternativa. Quiçá estejam em maus lençóis certos anacrónicos profetas e pastores do delírio político radical. Leia-se, antes que anoiteça, “O Crepúsculo da Democracia”, de Anne Applebaum e “Projeto Democracia”, de David Graeber. Já daria uma boa discussão... outros quinhentos!