DNOTICIAS.PT
Artigos

Cidade na cidade

São Martinho tem características de cidade na cidade. Apenas algumas partes (de que Santa Rita é o melhor exemplo) retêm os vestígios das bananeiras e da cana-de-açúcar de outrora. Seja pela construção pública de bairros, como a Nazaré, ou os sucessivos empreendimentos privados, como na Ajuda, a verdade é que o urbano tomou conta do que já foi arredor rural, sendo fundamental pensar nessa nova centralidade.

Tal confere uma responsabilidade especial, que coloca São Martinho no lugar de “cidade no topo da colina” – recuperando a metáfora utilizada por Kennedy para guiar a sua governação. Partindo de Mateus 5:14, a ideia é a de uma governação que assume a responsabilidade de ser exemplo, pela virtude e pelos valores partilhados, em que não basta existir, procurando antes ser referência.

Este assumir da cidade é também o caminho de urbanidade, que se constituiu como pedra angular do centro-esquerda em todo o mundo ocidental. Em tempos de populismo à solta, com forte pendor autocrata, é fundamental recuperar esta capacidade. Sobretudo, no contexto de “bota-abaixismo” das redes sociais, em que bots, perfis falsos e instigadores descarados enchem os comentários, tal como na multidão que soltou Barrabás.

A história económico e social de São Martinho transporta também desigualdades que obrigam a um trabalho de continuidade, centrado no que é preciso fazer. O bairro da Nazaré demonstra bem os círculos virtuosos ou viciosos que a política de proximidade pode implementar. A criação de dependências (incluindo políticas) aliada à inércia favorecem sempre a degradação. Ao invés, uma política que privilegia aqueles que cuidam (nomeadamente do bairro) dá o sinal certo, que se estende a apoiar quem dinamiza para empoderar (chave para a verdadeira autonomia).

O mesmo se pode dizer do alojamento local desregrado, em que a inércia e as dependências produziram problemas para toda a comunidade, em vez de uma política do cuidado, que parte da regulação (as regras são a base da vida em comum).

O trabalho não se resume apenas a “fazer bem” para manter. Antes, ele implica ir mais além, inovando. Foi aliás dentro deste quadro que o PS desenvolveu uma extensa oferta cultural e desportiva e a instalação de equipamentos vários (incluindo nas escolas), no quadro de uma “cidade em que se deseja viver”. É preciso retomar e ir mais longe, com projetos europeus que requalifiquem espaços e caminhos, incentivando a utilização de energias renováveis com projetos como os “bairros solares”, bem como com iniciativas que estimulem os jovens no desenvolvimento da ciência e tecnologia.

Em suma, uma alternativa que sabe o que é o urbano e que consegue implementar em comunidade o “melhor viver”.