O fim das instituições e o fast-food político
Vivemos num tempo em que a opinião, amplificada e distorcida pelas redes sociais, se tornou o centro do debate público. A comunicação social tradicional, incapaz de resistir à voragem da velocidade e do espetáculo, deixou de mediar e passou a replicar. As agências de comunicação, outrora filtros de credibilidade, são hoje canais diretos de propaganda. Multiplicam-se “notícias” fabricadas à medida de interesses momentâneos, matando não só a verdade como também a perceção coletiva. Como lembrava Umberto Eco, “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. Essa voz ecoa sem contraditório, sem crítica, sem educação cívica. Neste vazio, floresce a política de fast-food: líderes de ocasião, embalados em slogans fáceis, alimentando-se do medo e da frustração da sociedade. O pensamento substituído pela frase feita; a estratégia trocada pela sobrevivência. Como escreveu Zygmunt Bauman, “vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar” — nem ideias, nem projetos, nem lideranças.
Portugal, dentro do ciclo económico que Adam Smith tão bem descreveu, acabará inevitavelmente por mudar o diapasão. Mas não por planeamento estratégico, antes pela implosão das instituições tal como as conhecemos. As lideranças internacionais são hoje figuras de circunstância, mais preocupadas com a gestão da imagem do que com a resolução de problemas. A ONU, a União Europeia, todos os organismos supranacionais, transformaram-se em símbolos vazios. A recente cimeira do Alasca prova-o: encontros protocolares que nada decidem, rituais que servem mais para alimentar crónicas do que para mudar realidades.
Enquanto isso, o Médio Oriente, não aquele da desgraca humana e di genocidis de Gaza, não o outro , o do petrodòlars, tantas vezes tratado como periferia, avança a passos largos. Atrai conhecimento, médicos, professores, inovadores, constrói futuro. A Europa, pelo contrário, perdeu ambição e vive encurralada nas suas próprias contradições, preocupada com tudo e com nada.
As instituições de comunicação não informam, condicionam. Os políticos não lideram, sobrevivem. E um país não se constrói com sobreviventes. Constrói-se com líderes capazes de arriscar, de pensar e de projetar futuro. Sem isso, o destino está traçado: o mundo muda, Portugal muda, e daqui a duas décadas mudará de novo. Mas, se nada alterar, mudará sempre para pior.