Qual o peso do turista?
A Madeira recebeu, em 2024, cerca de 2.250.000 turistas, com uma estadia média de 4,71 dias, o que representa cerca de 10 milhões e meio de dormidas.
Dividindo este valor pelos 365 dias do ano, temos que, em média, a Madeira hospeda temporariamente 28.810 turistas em acomodações hoteleiras ou de alojamento local. Comparando com a população local, cerca de uma em cada dez pessoas na ilha não é residente.
É importante colocar estes números em perspetiva, pois mostram o impacto que o turismo tem na nossa ilha. Sendo verdade que a Madeira sempre foi uma região hospitaleira e muito exposta ao turismo, o nosso setor turístico tem proporções que não se encontram em muitos outros lugares.
Este influxo gradual de turistas tem sido o grande sustento da nossa economia, gerando uma entrada de dinheiro que a Madeira não tem outra forma de captar. Não temos indústria – nem condições para a ter – e, apesar dos serviços digitais estarem a crescer, não têm uma escala comparável.
O turismo representa uma forte captação de receita externa que dinamiza significativamente o mercado doméstico. Desde potenciar a venda direta a indivíduos com maior rendimento disponível quando comparados com os residentes, até oferecer-nos mais hipóteses de saída da ilha por via aérea – saídas que seriam mais limitadas caso não existissem operadores privados a tentar trazer turistas para a nossa região.
No entanto, tornou-se também evidente que, para que o sucesso alcançado seja sustentável, sem prejudicar os madeirenses, nem levar à perda de qualidade enquanto destino turístico, temos de melhorar nalguns pontos.
É inegável que a pressão causada por este grande volume de população transitória – que friso, é um grande sucesso das entidades privadas e públicas envolvidas no setor – coloca uma forte pressão em tudo o que são infraestruturas da região.
As estradas parecem mais pequenas, o stock de habitação diminui, os locais de interesse ficam sobrelotados, as urgências recebem mais pacientes e todas as nossas instalações de tratamento de resíduos e águas, bem como de geração elétrica, registam um nível de utilização que excede o que seria necessário prever tendo apenas em conta a nossa população.
A verdadeira dificuldade é saber como colmatar estes problemas sem recorrer a um discurso contra-producente que defenda limitar entradas ou restringir a oferta turística a uma certa quota.
O que é necessário é dar aos madeirenses condições para continuarem a viver de forma digna enquanto mantêm os benefícios do turismo em rendimentos e oportunidades de negócio. As infraestruturas locais necessitam de ser dimensionadas não apenas para os madeirenses, mas sim para os madeirenses e para os que nos visitam.
A salvaguarda dos interesses dos madeirenses passa por conciliar a expansão do turismo com investimentos em três vetores estratégicos: transportes públicos, acessos rodoviários e habitação.