O “cabeça” de cartaz
Em breve, seremos mais uma vez mimados por uma nova campanha, novas promessas, novos protagonistas, rostos “lavados” e esticados e que surgem a uma velocidade estonteante, todos sedentos por visibilidade, likes, votos e seguidores.
No meio deste espetáculo cuidadosamente encenado, é essencial lembrar uma verdade simples, o verdadeiro valor de uma pessoa não precisa de um cartaz, e as pessoas não se medem pela altura, mas sim pelo caráter.
Com a necessidade de exposição constante, onde a imagem projetada se sobrepõe muitas vezes àquilo que realmente é o conteúdo. As redes sociais transformaram a vida de todos nós numa autêntica montra, exibimos viagens, bens materiais, amizades, conquistas profissionais, brindes e até gestos de generosidade, tudo isto em busca de validação, reconhecimento e estatuto e assim se cria a falsa ideia de que para ser valorizado é preciso ser promovido, exibido, seguido e elogiado.
No entanto, as pessoas verdadeiramente admiráveis são, quase sempre, aquelas que não precisam de aplausos ou tempo de antena. São as que agem com integridade longe dos holofotes, que fazem o bem sem plateia, que vivem com coerência e equilíbrio mesmo quando ninguém está a ver. A verdadeira grandeza revela-se no silêncio dos gestos genuínos, humildes e na consistência dos valores, no impacto real dos gestos e não no teatro encenado que deixamos nos outros.
Não vejo mal algum em celebrar conquistas ou sentir orgulho de algo positivo, mas corremos o risco quando começamos a acreditar que o valor depende exclusivamente da visibilidade, quando a vaidade se torna o objetivo, e assim perde-se a essência.
A humildade, a empatia e a coerência deixam de ser prioridades, substituídas por uma busca constante por aprovação externa.
A vida, hoje, parece feita apenas de instantes. Viver no imediato, reagir no impulso, publicar antes de refletir, tudo isso esgota o tempo da introspecção e dilui o sentido das ações mais nobres.
Precisamos recuperar a capacidade de valorizar o silêncio das boas atitudes, os gestos simples, o caráter de quem vive com verdade e intenção mesmo sem palco, compreender que o que realmente importa, são os pequenos detalhes que nos enchem o coração e a alma porque não se consegue replicar em fotos. É sobretudo, junto de quem partilha connosco a vida real e não a versão editada que aparece distribuída.
Se quisermos mudar o rumo, tanto na política, na sociedade, nas relações humanas, devemos reconhecer quem é de valor, mesmo quando esse valor não brilha ao primeiro olhar.
Como eu costumo dizer, menos um bocadinho!