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À cabeceira do desporto português

Serão os sócios (...) a decidir se querem um Marítimo competitivo, ligado ao futebol moderno

Sou sócio do Marítimo há mais de 20 anos. Esta odisseia clubística começou na infância, vivíamos ainda nas Virtudes, onde pela mão do meu pai passei diversas tardes nos Barreiros. Umas só com ele, outras com a presença de outros familiares e amigos. A receita era a mesma: um caldeirão fervoroso, que reclamava sempre das exibições menos conseguidas e que festejava como nunca quando vencia, em especial, qualquer um dos ditos três grandes. Afinal era a afirmação de “um povo que sabe lutar”.

Entretanto cresci, fui atleta do futebol e do voleibol e mais tarde tornei-me dirigente daquela que é a maior instituição da Madeira. As idas ao futebol mantiveram-se, mas os resultados não eram aqueles que a infância nos tinha habituado. O tempo mudou e a competitividade da nossa equipa, por um conjunto de fatores, também se alterou.

A Assembleia Geral do próximo dia 18 de julho reveste-se de um carácter especial: serão os sócios, a quem o clube sempre pertencerá, a decidir se querem um Marítimo competitivo, ligado ao futebol moderno e àquilo que todos os clubes estão a fazer, ou se querem um caminho de regressão, muito distante daqueles que são os pergaminhos dos nossos (quase) 115 anos de história.

Naturalmente que se compreende e aceita que muitos tenham dúvidas, receios e queiram saber a credibilidade de um futuro parceiro para a nossa SAD. Mas é essencial que não se desvirtuem algumas questões essenciais: primeira: o Clube é e será sempre dos sócios. Não é nenhuma parte deste que está à venda, sendo este o proprietário de todos os imóveis e património que tantos anos demorou a consolidar; segunda: a proposta cujos contornos são já, globalmente, conhecidos são reveladores da grandeza do investimento e da importância que investidor e órgãos sociais dão à marca Marítimo; terceira: aquilo que se definirá no dia 18 são as condições para que este parceiro faça parte da nossa estratégia de investimento, fixando condições de inegável sucesso - subida de divisão - para que a SAD deixe de ser maioritariamente do Clube, como já o foi no passado. Desde a constituição das SAD foi mais o tempo em que Marítimo surgiu como minoritário do que maioritário; quarta e última questão: todo o dinheiro que resulte da venda de 40% da SAD será diretamente entregue ao CS Marítimo, não revertendo qualquer cêntimo para o financiamento da atividade do futebol profissional da Marítimo, SAD.

Espero que seja uma Assembleia Geral participada, em que os sócios questionem, escrutinem e votem em consciência. Cabe-me, pelas funções que nela exerço, assegurar isso. Todavia, permitam-me o desabafo: num mundo em que o futebol se tornou uma indústria empresarial, quem quer um Marítimo à cabeceira do desporto português sabe como votar no próximo dia 18 de julho. Neste contexto, discutir a entrada ou não de parceiros financeiros equivale a participar em competições profissionais com atletas semiprofissionais. Desenrasca, mas está longe de ser uma solução. Num mundo em que o 90% do Alverca e do Penafiel foram vendidos por 8 e 12 milhões respetivamente, e outras SAD da I Liga venderam a maioria do seu capital por menos do que a avaliação apresentada por 40% do Marítimo, não se pode permanecer inerte.

Não nos restam dúvidas: há quem, em honra da nossa história, queira devolver ao Marítimo o “orgulho e altivez” a que tanto nos habituou e orgulhou. Cabe a cada sócio escolher em que cabeceira quer estar.