Entre conflitos, distrações e urgência de agir
O mundo tem vindo a ser palco de múltiplas crises que testam os limites da humanidade e a eficácia da democracia. Como cidadã apartidária e defensora do respeito e dos direitos humanos, observo com preocupação o que se passa à nossa volta.
O genocídio na Faixa de Gaza representa uma das mais graves violações do direito à vida e à dignidade humana no século XXI. As tensões históricas, agravadas por interesses geopolíticos e económicos, têm resultado numa violência desumana que ceifa milhares de vidas inocentes e destrói famílias. Este conflito não é apenas uma questão de territórios, mas de direitos fundamentais que deveriam ser universais e inalienáveis. A indiferença ou a manipulação por parte de algumas potências internacionais só alimentam o ciclo de sofrimento, demonstrando que, muitas vezes, interesses estratégicos prevalecem sobre o direito à vida.
As manobras recentes perpetuadas por Trump conseguiram desviar a atenção pública de questões cruciais. A sua relação ambígua com Israel e a postura de confronto com o Irão contribuem para um cenário de instabilidade regional e global. Estas manobras não só enfraquecem a credibilidade das instituições democráticas, como também impedem a defesa dos direitos humanos e a resolução de conflitos. Esta crescente aliança de alguns países com Israel, sob o pretexto de garantir a segurança, muitas vezes resulta numa alienação da opinião pública mundial e num agravamento do conflito. Tudo isto alimenta um ciclo de violência que ameaça a estabilidade do Médio Oriente e põe em causa o respeito pelos direitos humanos de ambos os lados.
Outro episódio que ilustra esta crise humanitária aconteceu no início de junho, quando o barco Madleen, no qual seguiam ativistas entre os quais Greta Thunberg, foi barrado por forças israelenses em águas internacionais, quando se aproximava da Faixa de Gaza, onde planeavam entregar ajuda humanitária. As pessoas a bordo foram detidas e repatriadas e a ajuda nunca chegou a quem precisava. Outras ajudas têm sido barradas e todos os dias morrem crianças desnutridas em Gaza, havendo mesmo milhares de bebés em risco. É este o mundo que queremos continuar a construir?...
Os discursos de ódio e desinformação têm alimentado episódios de violência e discriminação também em Portugal, como os recentes ataques contra o ator Adérito Lopes e contra voluntárias que distribuíam alimentos a sem-abrigo no Porto, por neonazis ou pessoas de extrema direita. Os dados mais recentes da ECRI são muito preocupantes: as queixas judiciais contra crimes de ódio quintuplicaram em Portugal — de 63, em 2019, para 347, em 2024. Face a estas ameaças crescentes, é imperativo que a sociedade civil, os líderes políticos e as instituições reforcem o compromisso com os direitos humanos. Não podemos permitir que a distração, o populismo ou interesses políticos comprometam a nossa capacidade de proteger as liberdades fundamentais. É necessário agir com urgência, promovendo a educação para a tolerância, reforçando o Estado de Direito e apoiando as vítimas de violência e discriminação.
Em tempos de crise, a nossa maior força reside na nossa humanidade. É fundamental que nos unamos em defesa dos direitos de todas as pessoas. O combate à violência, ao ódio e às injustiças é a nossa missão mais urgente. A liberdade, a dignidade e a paz não são garantidas por acaso — são o resultado do nosso esforço coletivo e de uma firme determinação em construir um mundo melhor.