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A escola também é nossa

O associativismo jovem estudantil é um primeiro passo para aprender a ter opinião e a defendê-la com responsabilidade

Fala-se muitas vezes da falta e interesse dos jovens pela escola, pela política ou pela participação cívica. Mas a verdade é que, nas escolas secundárias da Madeira, há alunos que fazem exatamente o contrário: organizam-se, ouvem os colegas, tomam decisões e tentam melhorar o dia a dia de quem os rodeia. São os que integram associações de estudantes e merecem ser reconhecidos por isso.

No mais recente episódio do programa PEÇO A PALAVRA, da Académica da Madeira com a TSF 100 Madeira, tive a oportunidade de conversar com três jovens que lideram as associações estudantis nas suas escolas. O que ouvi não foram respostas feitas nem discursos vazios, foram partilhas genuínas de quem sente as dificuldades de representar os outros, mas também a importância de o fazer.

Muita gente ainda olha para as associações de estudantes como grupos que organizam festas ou que vende camisolas. E, sim, também fazem isso. Fazem, porém, muito mais. Promovem campanhas informativas, defendem os colegas que precisam de apoio, tentam criar espírito de escola e, acima de tudo, dão voz a quem muitas vezes não a tem. São uma ponte entre os alunos e a direção das suas instituições. Participam na solução dos desafios.

Ser representante estudantil é mais do que um título, é uma responsabilidade. Implica negociar com direções, lidar com críticas, gerir expetativas e manter-se fiel no que se crê. Isto tudo, enquanto se estuda, fazem exames e se tenta manter boas notas. É um equilíbrio difícil, que exige maturidade, tempo e adaptabilidade. Mas também oferece algo valioso: a sensação de estar a fazer a diferença.

É verdade que há muitos desafios: pouca participação, falta de meios, burocracia. Mas quando a escola acredita nos seus alunos e dá espaço a que sejam ouvidos e tenham iniciativa, tudo muda. Os jovens não são desinteressados. Estão, muitas vezes, desmotivados por não sentirem que o que dizem tem peso. E isso é algo que pode e deve ser mudado.

E há outra realidade de que se fala pouco: muitos alunos terminam o secundário com médias altíssimas, mas sem saberem ao certo para onde querem ir ou o que querem fazer. O sistema está tão focado em notas, exames e rankings que se esquece do essencial: ajudar cada estudante a perceber quem é, do que gosta e de como pode construir uma carreira com sentido a longo prazo. Há quem escolha um curso só porque tem saída, ou porque é o que os pais esperam. Mas poucos têm tempo ou espaço para refletir verdadeiramente sobre o futuro que querem. Isso também devia fazer parte do papel da escola, formar pessoas, não só médias.

O associativismo jovem estudantil é um primeiro passo para aprender a ter opinião e a defendê-la com responsabilidade. É, muitas vezes, o início de um percurso de participação mais longo, na universidade, na sociedade, na política. Permite ganhar competências que não vêm nos manuais: comunicação, organização, empatia, trabalho em equipa. E por isso devia ser mais apoiado, mais valorizado e mais falado.

A escola também é nossa. E quando nos dão espaço para participar, não só aprendemos mais como também ajudamos a escola a crescer connosco e para nós.