Madeira: entre o Turismo e a perda da identidade
A Madeira, outrora uma ilha onde o orgulho e o respeito pela terra estavam no centro da vivência dos seus habitantes, está hoje a perder-se no meio de um turismo desenfreado e de uma gestão permissiva que deixa para trás os próprios madeirenses. Aquilo que era nosso — a cultura, os espaços públicos, a tranquilidade — está a ser tomado por interesses externos e por uma falta de zelo gritante.
Temos hoje uma ilha invadida por festas constantes, ocupações abusivas dos nossos espaços e vandalismo em zonas que deveriam ser protegidas. Os jardins públicos, miradouros e promenades são agora palcos de eventos, aulas de grupo, festas privadas, e todo o tipo de iniciativas que mais parecem feitas para impressionar quem nos visita, esquecendo quem cá vive.
A destruição da fauna e flora, muitas vezes silenciosa, é um reflexo direto desta atitude de “vale tudo”. O turismo, que podia e devia ser sustentável, tornou-se num monstro insaciável que consome o que resta da nossa identidade natural e cultural. Estamos a ver a Madeira a ser transformada num produto comercial, em vez de continuar a ser uma terra de raízes, tradição e respeito.
Os preços das habitações disparam, empurrando para fora quem sempre trabalhou pela ilha. Muitos madeirenses, especialmente os mais jovens, já não conseguem viver onde nasceram. Enquanto isso, projetos de fora são recebidos de braços abertos, com benefícios e facilidades que nunca foram oferecidos a quem cá vive e contribui com os seus impostos todos os meses.
E nem os espaços públicos escapam. As promenades — que deveriam ser locais de lazer e descanso para todos — estão constantemente ocupadas por grupos de aulas de desporto, yoga, dança, bootcamps, e outras atividades que, muitas vezes, nem sequer têm autorização nem pagam qualquer taxa. E que fique claro: não são apenas estrangeiros. Há também muitos residentes com projetos informais, que usam e abusam destes espaços sem qualquer retorno para a comunidade. Quem quer simplesmente caminhar, descansar, estar com a família, já nem consegue usufruir em paz.
A Madeira precisa urgentemente de regras claras, restritas e eficazes. Precisa de recuperar o respeito pelo que é público, pelo que é de todos. Precisa de voltar a ser dos madeirenses.
Não se trata de fechar portas ao mundo, mas de abrir os olhos para o que estamos a perder. A ilha não pode continuar a ser moldada ao gosto de quem apenas cá está de passagem, e por aqueles que julgam que a Madeira já lhes pertence! A Madeira tem uma alma, uma história e um povo — e é tempo de os recolocar no centro de tudo.
Leitora identificada