O homem que segurou a dor pela mão e voltou a vencer!
Na noite de 31 de Maio, o mundo viu o Paris Saint-Germain conquistar, pela primeira vez na sua história, a Liga dos Campeões da Europa. Uma vitória clara, categórica, incontestável: 5-0 frente ao Inter de Milão, sem Neymar, sem Messi, sem Mbappé. Sem estrelas cintilantes apenas a luz crua do mérito, do trabalho e da coragem de uma equipa de jovens que ousou sonhar.
Mas esta não foi apenas uma vitória desportiva. Foi uma declaração silenciosa. Um grito contido vindo de um homem que conhece a dor mais profunda que a vida pode oferecer.
Porque por detrás de cada passe, cada golo e cada gesto de celebração, estava um treinador com o coração cheio de ausência e uma alma moldada pela perda.
Luis Enrique, o homem que liderou esta epopeia, não é apenas um treinador. É, antes de mais, um sobrevivente do amor. Em 2019, num gesto que passou quase despercebido pela comunicação social, Luis Enrique afastou-se da seleção espanhola. Não quis grandes explicações. Não houve entrevistas, nem lágrimas públicas. Apenas silêncio. Apenas uma ausência que dizia tudo. A sua filha Xana, de nove anos, fora diagnosticada com osteossarcoma, um tipo raro e agressivo de cancro ósseo.
Foi aí que tomou a decisão mais importante da sua vida: escolheu ser pai. Escolheu estar. Não como figura pública, não como líder de balneário, mas como presença incondicional. Como porto seguro no meio da tempestade.
Durante meses, o seu mundo reduziu-se a isso: acompanhar a filha em cada exame, em cada tratamento, em cada noite de incerteza. Segurar-lhe a mão. Contar histórias. Sorrir mesmo quando o chão se abria. Amar até ao fim, sem desviar o olhar, mesmo quando tudo doía.
Xana faleceu em Agosto desse mesmo ano. E com ela, partiu uma parte irreparável de Luis Enrique. Ele desapareceu. E quando regressou, era outro. Mais calado. Mais denso. Mais humano.
Havia nos seus olhos uma dor que não se supera, apenas se aprende a carregar. E foi isso que ele fez. Aprendeu a viver com a ausência. A caminhar com o vazio. A continuar. Seis anos depois, de pé junto à linha lateral, com os braços cruzados e o olhar sereno, assistiu ao que parecia impossível: o PSG, tantas vezes apontado como um clube de egos, triunfava pela força dos anónimos. Jovens de 19 anos, sem capas de revista, a jogar com a alma.
A imagem é poderosa. Porque ali não estava apenas um treinador. Estava um homem que conhecia o valor da resiliência. Que sabia o que significava perder tudo e, mesmo assim, construir de novo.
Em entrevistas recentes, quando questionado sobre Xana, responde com doçura e firmeza: “Ela está comigo todos os dias. Falamos dela, rimos, lembramos. Ela continua viva em nós.”
Porque o maior troféu de Luis Enrique não foi a Liga dos Campeões. Foi ter voltado a amar o que fazia, depois de quase se ter esquecido de como se respirava. Foi ter voltado a acreditar no futuro, quando o seu coração insistia em permanecer no passado. Foi liderar não com raiva ou pressa, mas com alma. Com memória.
Afinal, há vitórias que não se medem em títulos. Medem-se na forma como se sobrevive. Na forma como se escolhe viver, mesmo quando o mundo inteiro parece ter perdido o sentido.
Luis Enrique mostrou-nos, nesta final, que o futebol pode ser mais do que um jogo. Pode ser um lugar de redenção. De reencontro. De tributo.
E que há homens que, mesmo destroçados, continuam a ensinar-nos a beleza de continuar.
Porque vencer, às vezes, é apenas isto:
Amar até ao fim e, depois disso, continuar a caminhar.