Por uma pesca com futuro na Madeira
Na Madeira, a pesca não é apenas uma profissão. É sustento, é cultura, é identidade. É um reflexo da relação íntima que temos com o mar, construída ao longo de gerações. Falar de pesca é falar das pessoas que saem todos os dias para o mar, das que trabalham em terra, das que dependem diretamente deste setor para viver com dignidade.
Ao longo dos últimos anos, tive a oportunidade de visitar as comunidades piscatórias no Caniçal e em Câmara de Lobos. Vi com os próprios olhos o que é trabalhar no mar quando a embarcação não tem condições mínimas de segurança, quando não há conforto nem espaço para descanso, quando o risco faz parte da rotina. Importa desmistificar o conceito de “barcos velhos”, porque uma embarcação com idade pode ter boas condições. O problema reside naquelas que nunca as tiveram e naquelas que, por razões financeiras e falta de apoios, foram ficando para trás.
É precisamente aqui que entra a necessidade de modernização. Não se trata apenas de substituir embarcações. É preciso garantir condições dignas para quem trabalha na pesca, como em todas as áreas. Trata-se de tornar o setor mais seguro, mais eficiente e mais apelativo para as novas gerações. Sem renovação, não haverá continuidade e a pesca deixa de ter futuro e passa a ser passado.
Acima de tudo, é preciso lembrar que a pesca é feita por pessoas. Por gente que enfrenta o mar todos os dias, em condições duras, com um esforço raramente reconhecido. É esse trabalho que merece ser valorizado, protegido e dignificado. Centenas de famílias madeirenses têm nesta arte o seu modo de vida. Um modo de vida enraizado na nossa economia e na nossa cultura. A pesca alimenta o comércio local, o turismo e a restauração. Valorizar a pesca é proteger empregos, afirmar a nossa identidade insular e promover um produto que nos distingue.
Os desafios não se ficam por aqui. A transição energética chegou para ficar e a pesca não é exceção. É preciso falar de descarbonização, de combustíveis alternativos, de embarcações mais eficientes. Isso exige investimento, planeamento e adaptação. Mas não podemos exigir o impossível a quem já tem dificuldades para renovar um casco ou reparar um motor. A transição tem de ser justa, e só assim será se for acompanhada de apoios concretos, ajustados à realidade de quem está no terreno ou, neste caso, no mar.
É neste sentido, e com estas noções, que irei trabalhar no relatório de modernização e descarbonização da frota pesqueira europeia para o qual fui nomeado relator no Parlamento Europeu. É preciso também garantir que as especificidades das regiões insulares são tidas em conta e que as soluções não ficam no papel. Modernizar a pesca é uma necessidade e uma obrigação para com quem vive do mar. E é condição essencial para garantir que o setor continua a ter futuro na Madeira.