DNOTICIAS.PT
Artigos

O que me choca

Mas o que me choca mesmo, é constatar que milhares de jovens aderem ao sensacionalismo mediático e das redes sociais

Chegou ao país o populismo que a Madeira teve durante 37 anos, sob a batuta de um líder que soube dar eco à vox populi, herdeira de um passado fascista e de uma condição carente. A receita é a mesma: ter um inimigo externo e comum (eram os “cubanos” -portugueses do continente- chineses e indianos), controlo da opinião pública através do medo, controlo da comunicação social ou desvalorização da mesma, linguagem muitas vezes ofensiva e odiosa contra os adversários e técnicas de humilhação e exclusão para quem pensava diferente.

Essa foi uma das razões (entre outras extrínsecas e intrínsecas) que não permitiram a alternância política na Madeira. Portugal, agora, tem na sua malha política, um partido populista com as mesmas caraterísticas e começou a fazer as suas vítimas, começando pelo Partido Socialista, mas que, rapidamente, se repercutirá no país.

Não sou ingénua, nem sofro de cegueira ideológica, para ilibar o PS de qualquer culpa neste crescimento do populismo, mas também não me peçam para concordar com os silogismos que por aí proliferam de que os 50 anos governados maioritariamente pelo PS foram uma desgraça.

Só quem tem má-fé ou desconhece a nossa história moderna pode desvalorizar um partido que lutou pela Democracia, quando as Mulheres passaram a contar e a ser cidadãs de pleno direito; que permitiu a entrada na União Europeia, o que nos deu dimensão; que foi autor do Serviço Nacional de Saúde, do Sistema Público de Educação, do Sistema de Segurança Social, etc.

O que me choca no crescimento de um partido populista não é o protesto pela falta de resposta do Estado em termos de habitação acessível e pública, que não foi garantida apesar de ser um direito; ou pela dificuldade no acesso ao serviço público de saúde apesar do pagamento dos impostos; ou ainda pelos entraves criados pelo sistema ao cidadão que quer empreender e ser autónomo; ou pela escassez de apoio a quem realmente precisa.

O que me choca, é que se dê força a um partido formado por gente que se acha com legitimidade de expiação dos pecados dos outros, mas não vê os seus; que incentiva o ódio pelo outro; que minta descaradamente; que promova a sensação de insegurança e medo nas pessoas para as fragilizar e manipular; que desrespeite as instituições; que ponha em causa a Ciência; que deite no lixo os direitos humanos; que fale no nome de Deus em vão.

Mas o que me choca mesmo, é constatar que milhares de jovens aderem ao sensacionalismo mediático e das redes sociais, comprometendo, assim, o seu próprio futuro e da humanidade.