DNOTICIAS.PT
Artigos

Altruísmo sindical

O altruísmo: “Inclinação para procurarmos obter o bem para o próximo” (Dicionário Priberam).

A história da humanidade está repleta de exemplos que nos interpelam e nos desafiam. Também, hoje, o altruísmo está presente no dia a dia das nossas vidas, embora nem sempre demos por ele. Poderia destacar muitos exemplos, mas, por economia de espaço, vou centrar-me no altruísmo sindical e, de um modo particular, no sindicalismo docente, onde ao longo dos últimos 18 anos se destacou, em Portugal, a figura de Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores, que deixou o cargo no passado sábado, no 15.º Congresso da FENPROF.

Mário Nogueira foi um líder carismático, que inspirou e continuará a inspirar muitos docentes e muitos outros profissionais, destacando-se pela sua combatividade na defesa intransigente dos direitos dos professores, educadores, investigadores e de outros trabalhadores da educação. Também teve detratores, quase sempre, por desconhecimento da sua ação ou por motivos partidários.

O valor de Mário Nogueira pode ser aferido pelo respeito/temor que por ele nutriam os responsáveis pela educação. Na verdade, em todos os processos negociais, Mário Nogueira, líder de uma Federação que representa cerca de 50 000 docentes, era o mestre do tabuleiro de xadrez que todos temiam, porque dominava as regras do jogo e conhecia como nenhum político o papel de cada um dos atores envolvidos no jogo. Foi assim, mesmo quando se assinavam acordos menores penalizadores dos direitos e interesses de muitos docentes, procurando-se trazer para a ribalta agentes menores que jamais lhe fizeram sombra. Todos sabiam que, com ele, ou se respeitavam os direitos de todos os docentes ou não havia acordo.

Mas onde está o seu altruísmo? perguntar-se-á. Em toda a sua atuação, responderei.

Sim, a força que movia a ação de Mário Nogueira era o interesse coletivo dos docentes. Só! Note-se que, com quase 50 anos de serviço, há muito atingira o topo da carreira docente. Por isso, quando lutava pela recuperação do tempo de serviço congelado, pela regularização da carreira, pela vinculação dos contratados, pelo fim das vagas na progressão e dos percentis na avaliação e por tantas outras causas, o benefício pessoal era nulo. Mais, fazia-o com prejuízo para a sua vida pessoal e familiar, porque, tirando as poucas horas de sono, estava sempre ao serviço, 7 dias por semana, 365 dias por ano.

Merece, por isso, o nosso reconhecimento e as palavras de reconhecimento que lhe dedicou, no 15.º Congresso da FENPROF, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

É esta a essência do sindicalismo: colocar os interesses coletivos bem à frente dos pessoais; lutar por todos, para conquistar os direitos de cada um.