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Um Kit de Sobrevivência

Sem a garantia destes direitos não existe felicidade para quem trabalha e a pobreza tende a aumentar cada vez mais

1. Ultimamente temos ouvido falar muito na necessidade de cada um de nós ter sempre à mão um kit de emergência para fazer face a situações estranhas, como foi o apagão do dia 28 de Maio.

Mesmo sem ser perita nessas coisas, nem noutras, sou um simples ser humano que tem cabeça para pensar e já costumo ter em casa alguns enlatados, até para fazer face a alguma emergência pessoal, medicamentos para um mês para não andar sempre na farmácia, mercearias normais não perecíveis para ir utilizando sem precisar de estar preocupada que acabem sem eu dar por isso. Pilhas para os comandos e o aquecimento do gás, velas para quando há falhas na eletricidade, nomeadamente quando há trovoadas, arraiais ou eventos que, de vez em quando, deitam abaixo a luz, etc... Tenho também um pequeno rádio que funciona com pilhas ou com eletricidade e outras coisas que não preciso de estar a mencionar.

Agora em tempos de guerra tão perto de nós, a importância de reforços torna-se ainda mais importante e toda a gente devia pensar que ter o chamado kit de sobrevivência em casa, é uma coisa normal e assim não é preciso, em situações de crise, como a do apagão, entupir os supermercados, como se o fim do mundo estivesse a nos bater à porta. Fiquei a pensar, vendo as imagens que nos foram enviadas pelas televisões, que afinal esquecemos o que a pandemia nos tinha ensinado.

2. Hoje é o dia dedicado a quem trabalha e faz o nosso País e a nossa Região avançar. Para elas e eles também é necessário garantir um kit de sobrevivência com trabalho seguro, salários decentes, bom ambiente e segurança no trabalho, boa remuneração no trabalho por turnos, respeito pelos direitos específicos das mulheres e das pessoas com deficiência, fim da discriminação dos salários entre mulheres e homens, mais oportunidades para quem é mais jovem, e reformas mais decentes, para quando vierem a se reformar.

Sem a garantia destes direitos não existe felicidade para quem trabalha e a pobreza tende a aumentar cada vez mais. Ainda há dias foram apresentados os dados do estudo sobre a pobreza na nossa região, e uma das conclusões é que grande parte das pessoas consideradas pobres são as que trabalham. Alguma coisa está a correr muito mal para que isso aconteça. Quem nos tem governado não tem estado atento a esta situação e sobretudo nada faz para a mudar. É verdade que o salário mínimo nacional tem tido um aumento razoável, mas se os restantes salários das outras categorias profissionais não aumentarem também, na devida proporção, há um afunilamento e um regular por baixo e daqui a dias temos todos os trabalhadores a ganharem apenas o salário mínimo. Esta é uma situação dos nossos dias que tem que mudar urgentemente.

3. Este mês temos mais um ato eleitoral, desta vez para a Assembleia da República. Tenho visto e ouvido as entrevistas dos primeiros candidatos no telejornal da RTP Madeira. Há para todos os gostos e até feitios. Mas no que me diz respeito, o meu candidato é um jovem que apresentou também um kit de sobrevivência sobre os principais problemas que preocupam as pessoas, jovens e menos jovens, colocando no centro os problemas para conseguir ter uma habitação para arrendar ou comprar. Os preços são incomportáveis e é preciso tomar medidas sérias para travar esta especulação. As rendas têm que ter um teto máximo. Uma pessoa que ganha por mês mil euros não pode pagar uma renda de 900 euros.

Para mim isto é tão lógico que não entendo os comentadores, que nas redes sociais da RTP Madeira foram enxovalhar esta proposta e quem a fez de forma ofensiva e humilhante. Vivemos tempos muito perigosos. Já não existe democracia para saber entender e compreender quem pensa diferente. É horrível a má fé que por aí abunda. Quem vota devia pelo menos saber separar o trigo do joio e votar pelos seus interesses e pelo seu kit de emergência. Eu voto Bloco de Esquerda com convicção, até porque não existe outra alternativa melhor.