DNOTICIAS.PT
Artigos

Quem não quer ser anjinho....

Há uma frase proferida por Miguel Albuquerque, ao longo da crise política na Madeira, que ficou-me na memória: “Quem quer ser anjinho não venha para a política”

Questionava-me tantas vezes se este devia ser o discurso correto, especialmente de um presidente, pois o seu significado, para mim, é que na política não há regras e vale tudo. Ora os princípios que eu sempre militei é de que a correção, a coerência no discurso, a humildade, acompanhadas de firmeza e de convicções sólidas na social democracia e na liberdade, parecem-me contrastar com esta frase. Aquela que tem sido a minha postura desde que me conheço enquanto indivíduo pensante e civicamente participante na sociedade, com humildade para admitir os erros e com uma fé inabalável no bem comum e no valor do Partido Social Democrata como sendo o único que, com a sua matriz ideológica, serve as sociedades atuais e vindouras, não se baliza por aquela observação. Devido ao meu posicionamento e atuação ao longo dos tempos, com base nestes preceitos, sofri consequências, sofro consequências e sofrerei sempre consequências, para o bem e para o mal, na minha vida, profissional e até pessoal, mas que aceito sem dramas e de forma absolutamente consciente. Nunca abdicarei dos meus princípios.

Quem é realmente social democrata, sabe que a liberdade e a democracia, o equilíbrio social, são os maiores tributos que nos oferece este partido. O verdadeiro social democrata , pensa e reflete, não tem “chip” formatado ou repete a cassete dada pelos “líderes supremos”. Tantas vezes defendi de forma clara e inequívoca as lideranças e noutros momentos, e em consciência, não o pude fazer por razões que todos conhecem. No entanto, sempre que se chegava aos momentos chave, e para não prejudicar o meu partido, optei sempre pelo silêncio, pois considerei que era um ato de responsabilidade enquanto militante. Há momentos para tudo.

As opiniões são difusas e antagónicas, entre os que acham que os silêncios e apelo ao voto ao PSD pelos opositores internos favoreceram Miguel Albuquerque e aqueles que acham que não significou absolutamente nada. De uma coisa tenho a certeza, os responsáveis que tinham todos os dados, sabem a extensão e o efeito destas posições.

Mas volto ao princípio afirmando: Miguel Albuquerque não foi anjinho. Resistiu a tudo e a todos, usou todos os meios, quebrou todas as regras internamente, aproveitou todos os medos ideológicos internos e externos , usou as estatísticas e os resultados economicos e ganhou. Miguel Albuquerque ganhou em toda a linha e sobre todos. Não ganhou só eleições, ganhou todas as condições políticas que se pensavam difíceis de voltar a alcançar, calando críticas (como a minha) sobre as dificuldades que teria na obtenção de uma governação estável.

Continua a ganhar, mesmo no “day after”, afasta com pragmatismo e realismo quem, do seu lado, contribuiu para os ódios internos, para a divisão assoberbada, e deixou um rasto de destruição governativa sob a sua batuta. Continua a ganhar quando minimiza agora as opiniões divergentes do passado e sabe que a normalização e a paz social serão a sua maior arma. Com tudo que aconteceu, sabe que não pode deixar que os “mais papistas que o papa” façam certos discursos e perseguições aos que foram opositores internos em determinados momentos, pois só assim a união em torno do partido social democrata irá naturalmente acontecer nos momentos chave, seja por manifestações mais activas de apoio ou pelo silêncio.

Mas Miguel Albuquerque abriu uma caixa de Pandora cujos efeitos são imprevisíveis no futuro, na forma como se irão comportar os políticos.

Não haja dúvidas, Miguel Alburquerque não foi anjinho e ganhou, mas eu continuo a acreditar que na política serão sempre precisos “anjinhos”, porque no futuro poderão ser estes a salvar o dia.

Posto isto, o foco está voltado para a estabilidade governativa e a melhoria das condições dos Madeirenses. Temos um Governo renovado e com todas as condições para pôr em prática as suas promessas.

Não posso deixar também em claro que as próximas eleições nacionais são de extrema importância. Manifesto o meio apoio, de forma inequívoca, aos nossos candidatos do PSD à Assembleia da República e espero que, reforçando a nossa representatividade no parlamento, poderemos ter mais capacidade negocial nas matérias que são essenciais para o nosso desenvolvimento.

P.S - Como o meu sentimento bairrista vem sempre ao de cima, felicito dois calhetenses. Nuno Maciel será Secretário Regional da Agricultura e Pescas e Doroteia Leça que, com certeza, será a nossa Presidente da Câmara Municipal da Calheta, e a primeira mulher a ter um lugar executivo no nosso concelho. Aos dois desejo as maiores felicidades nestes novos desafios.