Porque nos devemos importar
Particularmente a corrupção, parece gozar de uma espécie de impunidade por parte de muitos eleitores
Como democrata aceito o resultado das eleições regionais. O povo é quem decide, mas importa refletir sobre algumas questões. Porque importo-me. Porque nos devemos importar, porque não devemos normalizar a falta de ética ou o populismo.
Em primeiro lugar a questão da percepção dos cidadãos sobre a justiça. Os processos judiciais e suspeitas de corrupção que pendem sobre Miguel Albuquerque, e os casos que envolvem Luís Montenegro, parecem contar pouco para muitos cidadãos, como se viu pela vitória do PSD-M e como se está a ver pelas sondagens para as eleições nacionais. Devemo-nos importar. E devemos questionar a justiça, e a falta de credibilidade que os eleitores lhe atribuem, com operações mediáticas e que poucos ou nenhuns resultados apresentam, numa lentidão que absolve eleitoralmente qualquer suspeito.
Depois, e mais grave, a desvalorização das questões éticas, da transparência, da honestidade, da seriedade. Todas essas questões parecem não ser prioridade para muitos cidadãos. Particularmente a corrupção, parece gozar de uma espécie de impunidade por parte de muitos eleitores. Do ponto de vista da democracia, devemos importarmo-nos. E se não nos importamos estamos a consentir que a corrupção se normalize e que os alicerces do nosso sistema sejam corridos por vontade do povo. O sistema democrático poderá desagregar-se, quando questões criminais ou éticas são vistas com indiferença. Importa-me e preocupo-me que na hora do voto os valores morais e éticos não contem para as escolhas.
Estamos num tempo perigoso, em que o voto é depositado sem filtro em quem é suspeito de crimes, ou em quem usa o populismo e protesto como forma de captar o voto útil do descontentamento.
Os madeirenses escolheram e, como referi, aceito. Aceito e continuarei a lutar por aquilo em que acredito. E nunca deixarei de me guiar por valores éticos e morais, defendendo a transparência e a honestidade, acima de outros valores. E nunca cederei ao populismo e às promessas impossíveis de cumprir. O meu caminho, independentemente dos resultados eleitorais, será sempre o da verdade, o do compromisso, e da luta pelas causas em que acredito, mesmo em tempos em que elas parecem estar em desuso.
Os madeirenses votaram e escolheram. Acharam que a estabilidade estava do lado de quem está a governar. Quiseram estabilidade política, mas pergunto, que estabilidade garante o PSD para as suas vidas? Quem tem estabilidade quando não tem casa digna para viver? Quem tem estabilidade quando está anos à espera de uma cirurgia? Quem tem estabilidade quando não tem condições de ter um seu familiar em casa e tem de o deixar no hospital apesar de ter tido alta? Quem tem estabilidade quando tem os salários mais baixos do país? Quem tem estabilidade, quando na reforma, tem de escolher entre um saco de compras do supermercado e um saco de medicamentos da farmácia? Quem tem estabilidade quando não consegue pagar a cresce ou as propinas dos seus filhos? Quem tem estabilidade quando é obrigado a emigrar? Quem tem estabilidade quando os rendimentos da agricultura significam miséria? Quem tem estabilidade como funcionário público há 15 ou 20 anos e recebe praticamente o mesmo daqueles que entram agora na carreira? Tudo isto nos deve importar.
Temos um novo governo. O PS Madeira fará uma fiscalização rigorosa e muito determinada da ação deste governo, numa oposição construtiva em que apresentaremos na Assembleia Regional muitas propostas para melhorar a vida dos madeirenses e porto-santenses. O governo tem todas as condições políticas, e daremos o benefício da dúvida, até porque a maioria alcançada faz com que não haja mais desculpas para não resolver os problemas dos madeirenses e porto-santenses.