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Novo governo será capaz de responder a estes desafios?

Com a maioria de deputados na Assembleia Legislativa Regional temos governo por 4 anos.

A opção por uma “estabilidade política” pesou muito mais do que a desconfiança sobre a gestão governativa. A estabilidade está garantida por 4 anos, exceto se voltarmos a ter investigações sobre procedimentos governativos, ou novidades acrescidas sobre os processos em curso. Não é porque se muda a equipa governativa que se extinguem as investigações em curso.

A diferença é que os resultados eleitorais obtidos (juntamente com o deputado do CDS-PP) garante a aprovação de toda e qualquer medida proposta pelo governo e de qualquer moção de confiança ao governo.

Aos atuais nomeados para a equipa governativa recai a responsabilidade de demonstrar que estão preparados para os lugares para os quais foram nomeados. A forma antiga de governar, ausência de transparência nas ações e decisões devem ser deixadas para trás. E alguns dos novos nomeados herdam pesos bem pesados.

Comecemos pela saúde. Notícias durante a campanha eleitoral deram conta de falta de medicação no Hospital Nélio Mendonça. Razão - pagamentos em atrasos a empresas fornecedoras de medicamentos. Estes atrasos não devem ser de poucos meses, nem de 1 ano. É de mais tempo com toda a certeza. A indústria farmacêutica, sabendo da importância dos medicamentos para a saúde das pessoas, costuma ser bastante compreensiva com circunstâncias de dificuldades financeiras. Mas há limites. Porque há custos e ordenados para pagar e as dívidas aumentam a cada dia.

Também o novo Hospital precisa de uma atenção especial. Não ganhamos qualidade de saúde com edifícios novos. Uma infraestrutura daquele tipo implica recursos técnicos, materiais e humanos que no país não existem (sobretudo estes últimos). O pessoal vai ser aliciado com melhores ordenados ou passar-se-á o mesmo que agora? É preciso garantir tecnologia, equipamentos e pessoal que saiba trabalhar com os equipamentos. Pessoal médico e de enfermagem serão necessários. Onde vão buscar todo este pessoal? A nova Secretária da Saúde tem grandes desafios por resolver.

Na habitação, o atual Secretário das Obras Públicas herda um peso pesado. Apesar do anterior Secretário Regional já ter tido esta preocupação durante a sua governação, a verdade é que não se constrói apartamentos de um dia para outro. Demora o seu tempo.

Falhas do passado fazem-nos ter falta de habitação para situações urgentes e para as pessoas mais idosas, ou com maior vulnerabilidade financeira. Os contratos antigos de habitação, como é óbvio, estão em casas mais antigas e, por vezes, debilitadas. Em situações urgentes, o Instituto de Habitação da Madeira, por vezes, não tem conseguido resolver essas situações, ficando o ónus para o Instituto de Segurança Social da Madeira que acaba por financiar rendas às custas do erário público. Ou muito me engano, ou esta situação financeira não vai ser sustentável por muito tempo.

E para a classe média? É assistir-se a um empobrecimento global das famílias. Os preços atuais dos apartamentos e casas estão a nível do Dubai e são poucos os residentes que têm capacidade financeira para os comprar. Arrendar também não é opção para muitos. As rendas atuais levam uma fatia substancial do orçamento familiar, restando muito menos para alimentação e outros gastos a cada dia maiores. Habitação social a preços controlados é necessária. Outro desafio.

Confesso que não acredito na construção da quantidade de apartamentos prometidos durante a campanha eleitoral. Provavelmente, prometeu-se o que não se pode cumprir porque em campanha eleitoral o que interessa é prometer. É a tal história – prometi, é verdade, logo se vê se se consegue e volta-se a prometer na campanha seguinte. O que interessa é ir dando uns bombons.

Outro desafio importante para o futuro da nossa terra e que pouco se fala é o envelhecimento da população com todas as consequências que isso traz. Doenças associadas à velhice, assistência aos idosos em lares, ou apoios para que as famílias possam manter os seus idosos em casa são temas a ter em consideração. É necessário definir medidas de apoio financeiro para que as famílias consigam ter os seus idosos em casa. Se querem ser economicistas, pensem que um idoso numa instituição custa muito mais dinheiro do que qualquer apoio financeiro às famílias. E verão como muitas famílias optarão por ter os seus entes queridos em casa.

É preciso também pensar com urgência em verdadeiras medidas de apoio à natalidade. Com as condições atuais de vida dos madeirenses, as famílias vivem com muita dificuldade. Ter filhos é uma responsabilidade muito grande. A renovação das gerações não se faz de um dia para outro. Para começar leva 9 meses a gerar e em média 20 anos a formar. É melhor começar a pensar a longo prazo. Isto para não falar na falta futura de trabalhadores. Atualmente já precisamos de imigrantes para certos trabalhos.

Outra situação a ter em atenção é a opção de juntar o Ambiente à Secretaria Regional do Turismo. Esperemos que o ambiente não fique subjugado às opções do turismo. Porque o que a Madeira precisa é de um desenvolvimento económico sustentável. Ninguém vem à Madeira para ver construções. Não se esqueçam que a nossa maior vantagem competitiva é a nossa especificidade de clima, orografia e paisagem.

Veremos também o que se proporcionará com o desenvolvimento económico com o novo Secretário. Ideias criativas capazes de trazer receitas para a Madeira são necessárias.

Com tudo isto, o novo Secretário Regional das Finanças vai ter de aguentar as pontas e arranjar dinheiro. Boa sorte!

Aos 100 dias de governação, já teremos uma melhor ideia do que nos espera nos próximos 4 anos.

Por agora, tenho apenas uma certeza. Que este novo governo fez história ao nomear a primeira mulher Presidente da Assembleia Legislativa Regional da Madeira. Parabenizo por ser mulher, mas sobretudo por saber que tem capacidade de trabalho e tenho esperança de que irá impor uma maior dinâmica na “Casa da Democracia”, aproximando-a da população.