‘Adolescência’ e a urgente prevenção da violência
Eu também fui uma adolescente que passava horas fechada no quarto à frente do computador. As tardes e serões em que me deixava levar pelos videojogos e por conversas nos primeiros chats e fóruns, muitas vezes, eram acompanhadas por uma curiosidade insaciável sobre o mundo. Contudo, à medida que cresci, percebi a importância de dialogar sobre as mil questões que me eclodiam na mente. Ainda não havia chegado a era das redes sociais e dos smartphones.
A série “Adolescência”, da Netflix, conta uma estória perturbadora: um rapaz de 13 anos que mata uma rapariga. Este enredo, embora fictício, reflete uma realidade alarmante que, de alguma forma, já está presente na sociedade. A violência entre jovens, muitas vezes alimentada por uma cultura de toxicidade e desrespeito, exige uma resposta urgente e eficaz.
É fundamental que a importância do diálogo aberto com os/as jovens seja reconhecida, e que a masculinidade tóxica seja desconstruída cada vez mais. Sim, um homem também chora e deve expressar as suas emoções de forma saudável, para que não se transformem em raiva recalcada e violência. Na verdade, muitas vezes, as crianças e adolescentes sentem-se isolados/as, incapazes de partilhar os seus medos e inseguranças. Criar um espaço seguro para a comunicação não só ajuda a desmistificar o que se passa nas suas vidas, mas também permite identificar comportamentos prejudiciais antes que se tornem problemáticos. A escuta ativa deve ser a prioridade.
Outro aspeto crítico a considerar é a influência das redes sociais. Com a ascensão de influencers, muitos deles promovendo mensagens misóginas e tóxicas e até acusados de crimes gravíssimos, é essencial que os/as jovens aprendam a discernir o que é aceitável e saudável em termos de comportamentos e atitudes. O consumo passivo de conteúdo, sem uma análise crítica, pode perpetuar ideais de violência e desrespeito. As redes sociais não são apenas plataformas de entretenimento onde podemos despejar tudo o que nos apetece; são também espaços onde se moldam valores, de crianças e jovens. E todos/as nós temos a nossa quota parte de responsabilidade.
A disciplina de Cidadania e Desenvolvimento nas escolas, que “assusta” algumas pessoas, é fundamental para combater esta realidade como um motor para a formação de cidadãos e cidadãs conscientes e responsáveis. Através da educação para a consciência emocional, sexualidades, igualdade de género e direitos humanos, estamos a equipar os/as jovens com as ferramentas necessárias para desafiar normas prejudiciais e construir uma sociedade mais justa e menos violenta.
É imperativo que os/as jovens aprendam a questionar as narrativas dominantes e a cultivar relações baseadas no respeito mútuo. O papel dos educadores, pais, cuidadores e comunidade em geral é crucial para promover um ambiente onde a violência não tenha espaço para florescer. Para tal, temos que ser mais proativos/as.
Resumindo, a série “Adolescência” serve como um alerta. É um convite à reflexão sobre como lidamos com a violência juvenil, a cultura que a alimenta e a necessidade de fomentar um diálogo aberto. É nossa responsabilidade, enquanto sociedade, assegurar que as próximas gerações cresçam num ambiente onde a empatia e o respeito sejam os pilares das suas interações.